OLÁ, SEJAM TODOS BEM VINDOS!
Meu nome é Isaias Amorim
Faço 42 anos em maio de 2013
Eu escrevo há 10 anos
Agora vamos falar sobre o meu livro? “ENSAIO SOBRE A
SABEDORIA”
Ele conta a história de um rei muito sábio que vai oferecer,
na primeira parte, algumas dicas para ajudar muito aos seus leitores a serem
pessoas mais sábias e justas, na segunda parte, entretanto, ele vai ensinar
algo surpreendente que marcará a vida de muitos leitores; a seguir comentários
de alguns leitores:
--
Laura (professora de literatura, portuguesa inglesa):
"Tudo começa como uma charada. Um acidente, a procura de um bode
expiatório, a ira, a raiva do Homem, a sede de vingança. Estórias cruzadas e
entrecruzadas, um interno interessante. Um rei humilde que escuta que vê e que
não tem medo. Uma linha tênue separa o bem e o mal, num utópico, mas
maravilhoso sonho mágico com uma forte componente religiosa. Vale mesmo à pena
ler".
---
Regina (professora de literatura). "Oi, Isaias, li o
seu texto, achei interessante, com algumas colocações diferentes e
inteligentes. Eu acho que você tem estilo. Permitindo-me dizer, essa mistura
que você fez com a realidade, o cotidiano e com religião, isso mostra a sua
personalidade e seu estilo. Eu sou uma professora de literatura e entendo isso
perfeitamente, consigo enxergar o conteúdo filosófico, o moral como pano de
fundo, misturando a religiosidade, o bem e o mal etc.. Mas outras pessoas,
talvez não consigam, não espere que isto aconteça talvez elas enxerguem só um
conto..."
---
Nil (cientista social): Vou fazer agora um livre comentário,
mas se desejar que eu divulgue seu talento, o que puder fazer farei... Gostei
do livro tema discutido durante o enredo é muito "saudável": a
sabedoria. Você nele (no livro) consegue fazer com que o leitor, mesmo até os
menos esclarecidos , pense, investigue, coloque a mente para trabalhar,você
conseguem fazer com que qualquer pessoa conheça um pouco dos limites que o
conhecimento impõe a quem deseja conhecer, ou seja, consegue nos fazer
"cansar" de tanto pensar, questionar... Gostei , sobretudo, a questão
como foi tratada a sabedoria cristã, do modo como ela é abordada. Percebe-se
que seu livro não ignora o valor que tem Cristo para cada um de nós. Percebe-se
que você evangeliza: sim, porque o rei (o personagem do ensaio) é um homem
sábio e que ainda busca um algo mais(um espelho para salvar sua alma da
dificuldade que é julgar com consciência, que é julgar os conflitos peculiares
das relações humanas, que é vencer a dúvida e as injustiças que
produproduzimos). Portanto, seu livro é criativo, e muito bom. Um livro que ,
inclusive, educaria muitas e muitas crianças ou adolescentes. Os pai , se
educassem , não os deixariam embriagados com a cultura de massa, com a mídia do
consumo, protegeriam da ignorância que muito preocupa a cada um de nós
cidadãos, seriam mais ativos no combate aos valores atuais...
---
Rosi Sampaio (pedagoga) "Seu futuro livro veio a mim em
um momento muito adequado. Maravilhoso, uma lição de vida. Nele entramos em
contato com nossa realidade social, humana e o principalmente a espiritual.
Antes de chegar a parte que trata de Jesus Cristo, lembrei-me muito do sermão
da montanha. Não vejo em seu livro apenas mais uma obra literária, mas sim uma
forma de acordar a humanidade para o que realmente importa. Que Deus continue
te abençoando poderosamente, fazendo suas mensagens tocarem em nossos corações,
e que as pessoas ao lerem seu livro, possam refletir e reconhecer o que
realmente importa nessa vida. Agradeço a Deus por você ter cruzado meu caminho...".
Professora Adriana: Isaias, o livro Ensaio
sobre a sabedoria é de um teor admirável e recomendo a todos meus amigos e a
quem possa interessar pois retrata bem a nossa vã maneira de agirmos
erroneamente em nome da justiça. Muitas vezes, cauterizados em nossas
convicções, somos injustos, arrogantes, implacáveis e fúteis, o pior é que nos
consideramos dignos de reclammar por justiça aos nossos governanates quando na
verdade somos relapsos nas pequenas atitudes que fariam grande diferença na
vida das pesoas. O melhor desse livro é a sabedoria verdadeira que está toda
enfatizada no evangelho de Jesus Cristo, nosso Salvador, pois Ele sim é nossa
justiça e seu amor nos ensina a perdoar, a não julgar e a amar nossos inimigos
também. Esse livro abrirá a mente das pessoas para conheceram a verdade única
que é Jesus, pois muitos estão com fome e sede de justiça e só Ele é a solução.
Parabéns! Que Deus continue te iluminando para a disseminação do evangelho!
Agora fiquem com a leitura
desse “livro” citado e comentado
ENSAIO SOBRE A SABEDORIA –
Livro 1
ESTAMOS no segundo domingo
de Maio em frente ao Hospício Municipal onde há um ponto de ônibus e neste
momento uma vendedora de cachorros-quentes estaciona seu carrinho e deseja a
todos que estão esperando seu transporte:
-- Bom dia, pessoal! O dia
está quente hoje, não é mesmo?
Um rapaz magricela
simpaticamente responde:
-- Bom dia, dona. É,
realmente está muito quente hoje.
Um homem gordo suando muito
e querendo ser agradável:
-- Bom dia. Que você tenha
um lindo dia!
Uma dona-de-casa que está
olhando seu relógio diz com um sorriso falso:
-- Bom dia. Está quente
mesmo! Espero que chova senão vou derreter...
A vendedora de
cachorros-quentes oferece:
-- Quem vai querer comer um
“hot” fresquinho?
O homem gordo salivando de
vontade de experimentar o lanche:
-- Eu queria um, mas estou
de regime, muito obrigado...
A dona-de-casa diz:
-- Acabei de comer em
casa...
O rapaz magricela que não
gosta de comer na rua diz desdenhando:
-- Se eu comer isso ai não
vou ter apetite para o almoço do dia das mães e conhecendo a minha mãe, com
certeza, ela vai ficar muito chateada se eu não almoçar com toda a família.
A vendedora de
cachorros-quentes visivelmente aborrecida:
-- Pôxa, ninguém vai comer
“nenunzinho”, como vou viver se ninguém comprar nada? Tenho aluguel para pagar.
A dona-de-casa responde-lhe rispidamente:
-- A vida não está fácil
para ninguém; meu marido ficou desempregado por 6 meses...
O homem gordo ainda com
vontade de provar um cachorro-quente confessa:
-- Eu igualmente estou com
dificuldades financeiras.
O rapaz magricela querendo
pôr um ponto final na discussão brada:
-- Minha senhora, as pessoas
estão sem dinheiro e eu também. E, outra coisa, ainda é muito cedo para se
comer isso. Por acaso é seu primeiro dia vendendo?
A vendedora faz uma
expressão de desânimo:
-- Não, faz um mês... Estou
tentando conseguir um dinheiro extra.
O rapaz magricela faz um
sinal com a cabeça mostrando que havia entendido e se cala.
O homem gordo querendo se
mostrar inteligente:
-- Esse país precisa de um
bom governante para olhar melhor os pobres, pois “esses caras” que entram no poder só querem
roubar o povo, eles acham que foram eleitos só para desfrutar da boa-vida às
nossas custas e não fazem nada a não ser roubar ...
A vendedora diz:
-- Se eu fosse a presidente
desse país seria muito justa e sábia, governaria para o povo carente! Eu
realmente acredito que tenho capacidade especial para governar melhor que essas
pessoas que estão no poder! Sempre fui pobre e sei o que os pobres necessitam,
entendo suas carências e desejos.
O rapaz magricela se imagina
no poder:
-- Se eu fosse governador
faria justiça, daria o melhor para o povo; no meu governo a paz e a harmonia
iriam reinar comigo. Minha justiça e sabedoria iriam fazer a diferença e o povo
iria se orgulhar do meu governo e eu entraria para a história como exemplo de
boa administração.
A dona-de-casa tem a sua
vez:
-- Eu queria ser prefeita
dessa cidade, com minha sabedoria e justiça, governaria muito bem esse
município. Acho que essa cidade precisa de alguém igual a mim para fazer dela
um exemplo a ser seguido. Viriam postulantes a cargos públicos de todo o mundo
estudar a mim e ao meu governo a fim de aplicar em seus países minhas atitudes.
A vendedora de
cachorros-quentes acreditando ser uma defensora dos pobres e dos oprimidos
volta a se pronunciar empolgadamente:
-- Com toda certeza eu seria
um exemplo assim também; todos iriam se espelhar em mim e se todos me seguissem
faríamos um mundo muito melhor para se viver.
O rapaz magricela diz a mesma
coisa e o homem gordo idem; acham-se um exemplo de competência, justiça e
sabedoria. Acham que tudo mudaria com eles no poder; e até imaginam estátuas
deles em todos os lugares.
A dona-de-casa repara que o
ônibus está demorando muito e olha de novo para o seu relógio e a vendedora de
cachorros-quentes conta que está indo embora, pois precisa vender seu produto,
mas antes diz:
-- Estou exausta... Não
dormi bem essa noite, descobri que minha filha é uma perdida na vida e eu a
expulsei de casa ontem e não consegui dormir, pois tenho muito medo de dormir
sozinha. O pai dela nos deixou há 10 anos e desde que isso aconteceu essa
menina era a minha vida. Sabe, ela fez 13 anos ontem; eu acreditava que ela era
uma criança, mas, agora, já que ela prefere essa vida de perdição... Engravidou...
Sei que tenho de me acostumar com isso.
O rapaz magricela resolve
falar sobre um fato de sua família:
-- A senhora fez muito bem,
essas meninas só dão desgostos e desonra para suas famílias. Minha irmã
igualmente engravidou de um homem que ela nem conhecia e meu pai a pôs na rua.
Não ficaria bem à família permanecer com ela em nossa casa. Essas meninas só
querem saber de vadiagem! Acho que meu pai e senhora deram um bom exemplo e
devem ser seguidos por todas as pessoas; assim essas meninas farão escolhas
melhores.
O rapaz magricela defende
isso com uma expressão facial de quem está dizendo a coisa mais certa do mundo
e se cala orgulhoso de si mesmo.
A dona-de-casa que consegue
ficar um minuto sem olhar para o seu relógio dá o seu parecer:
-- Eu que só cuido da minha
vida e procuro ser justa, mas, até já ouvi falar muito dessas meninas sem
juízo, acho que, inclusive, tudo isso acontece por falta de umas boas palmadas
quando são pequeninas.
O homem gordo diz logo em
seguida:
-- Se eu fosse o governo
daria um jeito nisso de alguma maneira, mandaria esterilizar essas meninas sem
juízo! Acredito que os filhos dessas meninas sem nada cabeça contribuem e muito
para o mundo estar tão ruim...
Cada uma das pessoas diz uma
barbaridade pior do que a outra; acham que têm um jeito melhor de punir essas
meninas e dar um exemplo mundial e reivindicam uma oportunidade de provar suas
teses, competência, sabedoria e justiça.
De repente, colocando a
cabeça para fora por um buraco do muro do Hospício Municipal, um interno olha
para cada um dos que estão do lado de fora e com uma expressão de um observador
decepcionado e bravo pergunta:
-- Ei, ei, psiu! Ei, ei,
psiu! Vocês se acham pessoas sábias e justas? Acham que seriam bons
governantes? Acham mesmo que o que vocês fizessem em seus pretensiosos e
absurdos governos teriam que ser copiados? Acham-se justos e sábios mesmo? Isso
até parece piada de louco; aqui dentro ouço muitas. -- O interno diz isso e
começa a rir sagazmente e diz:
-- Confesso que nunca ouvi
tantas maluquices juntas em tão pouco tempo! Vocês realmente são bons nisso...
Parabéns! Se vocês quiserem se internar aqui eu posso dar um jeitinho para
começarem o tratamento hoje mesmo. Estou aqui faz muito tempo e conheço os
diretores desse lugar.
Ao escutar o que o interno
disse, a vendedora responde indignada com a petulância daquela intrusa e
indesejada figura que está do outro lado do muro:
-- Você está nos agredindo
com suas palavras!
E o interno:
-- Vocês é que estão
agredindo aos meus ouvidos, à minha inteligência, ao meu bom-senso e à minha
lucidez com essas asneiras que estão dizendo... Eu estava descansando aqui
atrás e não consegui cochilar, pois achei que deveria ajudá-los a não dizerem
mais maluquices! Nem absurdos! Nem asneiras!
O homem gordo até perde o
apetite e muito bravo diz:
-- Você não passa de um
louco! Está aí preso porque faz mal à sociedade! É um doente mental...
E o interno responde
calmamente:
-- Louco é quem não tem
noção do que diz e faz e vocês se enquadram nesse perfil, eu não. É um fato que
estou cativo aqui, mas não faço mal à sociedade! Vocês sim, pelo que eu pude
ver fazem muito mal à sociedade...
A dona-de-casa de tão
irritada que fica com o interno nem pensa mais no seu compromisso:
-- Então por que você está
preso aí e nós estamos aqui fora livremente?
O interno faz uma expressão
de tristeza e a responde como se falasse com uma criança:
-- Porque o mundo não é
muito coerente. Mas ainda bem que existe este muro para me proteger de pessoas
como vocês! E digo mais, se vocês fossem governantes piorariam muito o mundo!
Seriam péssimos exemplos...
O rapaz magricela revoltado
com o interno diz aos berros:
-- Não dêem ouvidos a ele;
não vamos contrariar esse doido... Droga de ônibus... Por que será que está
demorando? – diz, tentando desviar a conversa e fazer com que o interno os
esqueça.
A dona-de-casa que nesse
momento está no limite de sua raiva se manifesta:
-- Meu rapaz... Vai tomar o
seu remedinho, dorme bem gostoso e calminho, tudo bem? Estamos falando sobre
coisas importantes aqui, não percebe?
O interno em tom de deboche
responde:
-- Estão falando sério? – De
novo começa a rir e diz -- Nem quero estar aqui por perto quando vocês
estiverem brincando de serem tiranos, injustos, ditadores, carrascos etc. Mas
direi mais uma coisa a todos... Não é necessário ser governante para mudar o
mundo e ser um exemplo a ser seguido... Podemos mudar o mundo com pequenos
gestos.
Todos riram do interno nesse
instante; a vendedora quase não consegue falar por não conter o riso e diz com
um falso tom de bondade como fazem todos os tolos -- Parabéns, garoto,
conseguiu passar no teste que inventei nesse instante, testei a sua maluquice e
você é o mais louco que já vi! Por falar nisso... Não está mesmo atrasado para
tomar o seu remedinho e ir dormir?
E o interno tentando mostrar
que o que ele está falando tem coerência, diz:
-- Sim, já tomei... Mas é
verdade o que eu disse, podemos mudar o mundo com apenas pequenos gestos... E
vocês, sendo governantes, cometeriam grandes injustiças com o povo... E
entrariam para a História como tiranos...
O homem gordo indignado com
o que acaba de ouvir do interno imediatamente diz -- Por que diz essas coisas
sobre nós? Você não tem esse direito; pagamos nossos impostos para você ter
tratamento de graça e retribui com ofensas?
O interno prontamente
responde com uma atmosfera de desafio:
-- Eu também inventei um
teste para provar que vocês não seriam bons no governo... Eu poderia propor
esse teste e mostrar-lhes que tenho razão no que estou lhes dizendo?
Todos se entreolharam e
riram do interno, mas mesmo caçoando muito dele aceitam o tal teste; querem rir
mais dele e ele faz uma cara de quem vai dizer algo muito importante -- Então
prestem a atenção. Vou contar uma história e vocês têm que me responder algumas
perguntinhas, certo? Topam?
Todos ficaram tão curiosos
para ouvir a história que até esquecem do ônibus que não passou ainda.
O interno dá um suspiro e
começa. -- Imaginem que um carro zero Km vem numa velocidade superior a 140 Km/h em uma rua que
começa plana, depois tem uma descida bem acentuada que termina em frente a
muitas residências, onde tem uma curva para a direita e outra para a esquerda
formando um “T” gigante. Imaginem que o motorista não consegue fazer a curva
nessa velocidade perdendo desta forma o controle do carro e na seqüência
atropela e mata no ato duas crianças que inocentemente brincavam no meio-fio;
uma das vítimas tem dois anos meio e a outra apenas um ano e meio. O motorista
está inconsciente; os pais dos inocentes junto com os amigos, os vizinhos e as
pessoas que chegam querem dar cabo da vida do motorista a pauladas, a chutes, a
porradas, com ferramentas de trabalho e com tudo que pude ser útil para esse
fim. Isso acontece num sábado às 20h25min diante do palácio real. Dento do palácio
o rei está sendo entrevistado pelas cinco maiores emissoras de TV do mundo por
ele ter sido considerado a pessoa mais sábia e justa de todos os tempos, com
base num teste feito por uma agência especializada. Essas emissoras de TV
estavam há dois meses anunciando essa reportagem e a agora a transmitem ao vivo
para o mundo todo. Esse programa seria um presente à todas pessoas, pois o
mundo está cheio de ignorância e injustiça e a idéia era que o rei sábio e
justo pudesse inspirar sua sabedoria nas pessoas. No momento em que acontece o
atropelamento e a morte das criancinhas o rei fala sobre grandes sábios como:
Sócrates, Spinoza e outros quando entra o guardião do palácio desesperado e
interrompe a entrevista e chama o rei num lugar próximo e conta que há uma
multidão organizada para linchar um motorista que matou duas criancinhas
inocentes em um atropelamento.
O jornalista da NCC-TV é
muito atento e ouve o guardião dizer tudo ao rei e solicita à realeza para que
ele mostre, ao vivo, ao mundo todo, como resolver um problema como este: com
sabedoria e justiça, para que seu exemplo possa ser seguido por todos, pois é
esse o objetivo da entrevista: ensinar o povo a ser sábio e justo e resolvendo
ao vivo um caso desses poderia ser mais educativo.
O rei aceita a sugestão e
começa a se deslocar ao local do acidente e todos deixam as dependências real
rapidamente.
Naquele momento metade da
população mundial assistia à entrevista e todos tiveram a mesma idéia de avisar
aos amigos e parentes sobre o ocorrido e todos os telefones começam a tocar:
eram amigos avisando para amigos, parentes avisando para parentes e assim todas
as pessoas foram avisadas do que está acontecendo. Agora o mundo todo está
diante das TV, todos estão ansiosos para saber do desfecho desse caso.
Quando o rei chega ao local
da tragédia logo vê que a criancinha de dois anos e meio está com metade do seu
corpinho no capô do carro e a outra metade no interior da máquina que a matou.
A pequena vítima está sem o braço esquerdo e o resto do seu corpo está todo
retorcido; jorra sangue inocente de cada poro de seu cadáver infantil ainda
quente.
A outra pequeníssima vítima,
de apenas um ano e meio, foi arremessada contra um poste, tendo a cabeça e os
braços decepados. O frágil corpinho está todo desfigurado. O sangue inocente
das pequeninas vítimas "lava toda a calçada". O rei olha para o
motorista e ele "dorme" como se estivesse tranqüilo em sua cama,
“dorme” como se tivesse feito a coisa uma linda e agora está dormindo “o sono
dos justos” e nem passa por sua cabeça que ao seu redor o povo está afoito para
fazer “justiça com as próprias mãos”.
Nesse instante o rei
concentra o seu olhar no motorista e é interrompido pelo choro de uma mulher; é
a mãe das pequenas vítimas, ela se aproxima e brada:
-- Majestade, sou a mãe
destas criancinhas assassinadas! Quando me casei não conseguia engravidar,
precisei fazer muitos tratamentos para conseguir, enfim, sofri muito com
enjôos, os exercícios, os partos foram difíceis e doloridos. Depois que elas
nasceram tivemos muitos problemas financeiros; mas amor, carinho, cuidado e
dedicação isso nunca faltou não! E agora, vem este assassino e tira os meus
filhinhos amados e queridos? Eu quero... Quero não... Eu exijo que vossa
majestade o mate também! Ele matou minhas criancinhas inocentes. Mate quem
provocou esta dor profunda em mim! Mate quem deixou esse vazio em mim! Mate
quem matou a minha alegria de viver! Mate o culpado! Faça a justiça! Dê o
exemplo para que outros assassinos pensem bem antes de tirar a vida dos outros!
Majestade, o senhor tem que puni-lo por isso!
O pai das crianças também
pedi ao rei para fazer justiça e “ensina” ao rei o que é justiça:
-- Majestade, deve condenar
este assassino à morte! É preciso dar o exemplo! Alivie a dor que paira sobre
mim, sobre minha esposa e sobre todos que estão aqui. Todos conheciam esses
inocentes! Queremos que vossa majestade faça a coisa certa: a morte desse
assassino, ou, no mínimo, a prisão perpétua com chicotadas o tempo todo neste
louco, matador de criancinhas! Eu o peço, vamos matar o responsável por este
sangue inocente derramado! Esse assassino matou estes inocentes sem a mínima
necessidade! Por que eles tinham que morrer? O que eles fizeram de errado? Eles
não tiveram a mínima chance de defesa! Tiveram? O que eles poderiam fazer para
se defender?
Cada pessoa que se encontra
ali dá ao rei uma idéia de qual seria a melhor maneira de matar o motorista que
ainda está desmaiado. Muitos desejavam matá-lo com as próprias mãos, pois estão
revoltados com o que estão vendo.
O interno ao chegar nessa
parte da história do seu teste diz às pessoas que estão no ponto de ônibus:
-- Cada um de vocês será o
rei dessa história... Querem poder? Terão todo o poder que quiserem! O que
vocês disserem será a verdade e tudo o que fizerem vai servir de inspiração
para as pessoas, portanto, resolvam este problema da forma mais sábia e justa
possível. -- O interno suspira solenemente e continua -- Mas, se, na verdade
vocês não forem realmente tão sábios e justos quanto pensam que são, irão é piorar
ainda mais o mundo. Vamos ver se vocês seriam bons governantes então? Vamos ver
se consertariam verdadeiramente ou o afundariam mais?
As pessoas do ponto de
ônibus ao escutar cada palavra do interno se entreolham atônitas e o interno
continua:
-- Agora vocês farão o papel
de rei e julgarão o motorista; façam as leis que acreditem ser corretas e
mostrem-me como inspirar positivamente com seus ensinamentos.
O interno olha fixamente
para cada um dos seus interlocutores:
-- Vocês poderão tomar a
atitude que quiserem, mas o objetivo é apresentar soluções para que nenhuma
criancinha inocente morra injustamente. -- E dizendo isso o interno suspira e
diz em seguida: -- Mais uma coisa... Tudo o que precisarem saber eu posso lhes
dizer, tudo mesmo. Se acharem importante saber a cor do carro ou a idade de
alguém, se quiserem até um exame qualquer eu lhes dou o resultado. Até mesmo se
precisarem saber quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha eu lhes conto. Mas,
não se esqueçam que o objetivo é que tenham atitudes que visem proteger a todas
criancinhas do perigo.
Todos no ponto de ônibus
ficaram reflexivos, sem nada a dizer e o interno diz ainda:
-- Vejam bem a situação...
As TVs estão dando closes no rei, nos corpinhos dos menininhos mortos, nos pais
deles, no motorista e na multidão. O motorista nesse instante acorda e dá uma
olhada na “situação” e o povo começa a gritar: “Morte ao assassino! Morte ao
assassino!”.
O interno com muita
paciência explica:
-- O motorista, muito
assustado, olha em sua volta, vê os corpos das crianças despedaçados, vê a
metade ensangüentada do cadáver de um menininho ao seu lado, vê as câmaras de
TV que filmavam por ali... Vê tudo e se apavora quando vê a multidão com tantas
armas e ferramentas em mãos dizendo frases de morte ao assassino! Ele fica
muito assustado, pois percebe que o tal assassino era ele mesmo e fica tão
apavorado que não consegue ter reação alguma e olha para o rei nos fundos dos
seus olhos e não consegue dizer nada com palavras nesse instante e fala apenas
com o olhar: “Por favor, ajude-me?”.
E o interno diz ainda: --
Olhem nos olhos do motorista e contem-me o que fariam; suas respostas mostrarão
se seriam bons governantes. Lembrem-se que todas as pessoas se inspirarão em
suas atitudes antes de resolverem os problemas sociais e pessoais: todos terão
o rei como referência! -- E o interno continua: -- Digam-me também o que vocês
acreditam que irá acontecer com o mundo todo quando todas as pessoas fizerem o
que vocês propõem. Quando todos agirem como vocês agirem, como nascerão bons
frutos disso? Expliquem-me. Quero que tenham atitudes realmente sábias e
justas, impedindo as crianças de morrerem de maneira semelhante a essa que
acabei de narrar!
A vendedora de
cachorros-quentes olha para as pessoas que estão ao seu lado e responde em
seguida, sem vacilar, convicta de sua sabedoria e justiça:
-- Mandaria matá-lo
imediatamente! Assim, todos tomariam cuidados quando fossem dirigir! Agindo
assim, como eu agiria, tenho a certeza de que nenhuma criança inocente iria
morrer por causa desses irresponsáveis que não olham por onde andam. Como vocês
podem ver, as pessoas pensariam muito bem antes de entrar no carro e correr.
Acredito que agindo assim teríamos um bom exemplo e todos o seguiriam!
Agora é a vez do rapaz
magricela que, com uma demonstração no rosto de reprovação à resposta da
vendedora, articula igualmente convicto de si mesmo:
-- Não concordo, se ele
morrer não vai sofrer nada, morrer seria um prêmio para ele, a por seu pelo
crime seria prendê-lo e mandar dar uma boa surra todos os dias pela manhã e, às
tardes, pegaríamos uma navalha e cortaríamos um pedacinho do corpo dele para
que pagasse por beber e dirigir dessa maneira, porque, com certeza, está
alcoolizado. Agindo assim, duvido que algum dia alguém assassine outras criancinhas!
Sabe, estou revoltado só de pensar nisso! Alguém já deveria ter tomado essa
atitude há muito tempo, pois se assim fosse feito o mundo estaria mais seguro!
Acredito que qualquer punição para esse criminoso é muito pouco!
A dona-de-casa faz uma
expressão que não concorda muito com o rapaz magricela e com a voz bem alta
fala quase gritando:
-- Acredito que o certo
seria que ele pagasse uma indenização para a família das crianças... É claro
que isso não iria trazer as crianças de volta, mas poderia pagar um novo
tratamento para que seus pais pudessem tentar uma nova gravidez e ter outros
filhos e trazer a alegria de volta ao lar deles, pois estão sofrendo muito por
causa de um assassino sanguinário. Eu não acho justo esse motorista interromper
o sonho alheio. Acredito que esse dinheiro iria diminuir a dor deles... É claro
que isso iria ser um exemplo a ser seguido por todos... E o mundo seria um
lugar mais seguro! – Quando ela termina de falar isso faz um gesto como
esperando aplausos pelo seu discurso.
Página 1
O homem gordo tão empolgado
para dar o seu parecer até se esquece que está morrendo de fome. Agora ele está
com fome e sede de “justiça” e olha para o interno que coloca a cabeça para
dentro do buraco e seu interlocutor articula o seu pensamento:
-- Eu faria diferente, ou
seja, o certo de verdade, seria mandar esse homem assassino prestar serviço
eternamente à sociedade... Ele teria que trabalhar duro para pagar pelo seu
crime, pela perda e dor que causou a essa família e à sociedade... Talvez, agindo
assim, sua consciência o torturasse e nunca mais ele mataria alguém! Todas as
pessoas iriam seguir esse exemplo e crianças não morreriam dessa maneira nunca
mais! Eu não acho justo mandar esse assassino para a cadeia onde este comeria à
custa das pessoas que pagam impostos altíssimos! Ele tem é que pagar pelo seu
crime com trabalho... Muito trabalho mesmo! Acredito que agir assim seria o
melhor exemplo que poderíamos dar ao mundo todo! – Ele parece do mesmo modo
querer ser aplaudido quando termina de falar.
Ouvindo as respostas o
interno diz para a revolta geral:
-- Então vocês se acham
sábios e justos mesmo? Que fariam bem à sociedade e que seriam exemplos de
justiça; melhorando muito mesmo o mundo? E ainda sonham em ser copiados? Porém,
vocês, sem exceção, todos foram, de acordo com os resultados dos testes,
pessoas muito injustas e muito pouco sábias... Com vocês no poder suas atitudes
piorariam muito o mundo e não salvariam ninguém... As crianças continuariam a
morrer em seus governos e nos governos de seus seguidores. Todos vocês
entrariam para a historia como déspotas.
A vendedora de
cachorros-quentes olha revoltada para as pessoas que estão no ponto de ônibus e
pergunta ao interno, com um tom de ironia, acreditando que não obteria uma
resposta melhor do que sua da parte do garoto que está atrás do muro do
Hospício Municipal:
-- Então se coloque no lugar
do rei, vossa majestade, e mostre o que um rei verdadeiramente sábio e justo
faria nesse caso... Pode nos dizer?
Ela diz isso e começa a rir
sem parar e todas as pessoas a acompanham na sua alegria; mas o interno
responde-a assim:
-- O rei verdadeiramente
sábio dessa história faz o seguinte: quando ele olha para o motorista e vê que
ele está tonto e confuso pergunta-lhe:
-- Meu amigo, você está bem?
Sabe o que está acontecendo aqui? Sabe que essas crianças foram mortas pelo
carro dirigido por você; carro esse que veio em alta velocidade? O que tem a
dizer em sua defesa?
Mas quando o rei pergunta
isso ao motorista algumas pessoas ao seu lado questionam:
-- Vossa majestade, ele vai
ficar bem mesmo quando estiver morto! Ele vai ficar “bem,” igualzinho as
crianças que ele as matou! Queremos matá-lo!
O rei olha para as pessoas
que disseram isso e diz:
-- Quietos, deixem-me, pois
sei o que estou fazendo...
Nesse momento o motorista
olha para o rei e começa a chorar muito e mesmo em soluços consegue dizer:
-- Sim, vossa majestade,
estou bem... Sim, e sei o que aconteceu...
Nesse instante o povo começa
a praguejar ao motorista, mas o rei vendo que ele está inconsolável e com muito
medo de ser linchado pergunta:
-- Poderia me dizer por que
estava correndo tanto com essa coisa? Se sente capaz de me explicar ou não? Tem
condição de fazer isso, ou não?
O povo em coro responde a
pergunta que o rei faz ao motorista:
-- Porque é louco! Porque
quer morrer! Assassino! Assassino! Quem mata crianças não merece viver!
O motorista se desespera e
derrama muitas lágrimas, já se sente morto pela multidão enfurecida e o povo
diz que são lágrimas de crocodilo.
O rei faz um sinal para a multidão
ficar quieta e diz ao motorista que está suando frio:
-- Fique calmo, meu amigo!
Só me responda o motivo pelo qual estava correndo tanto e ninguém vai fazer
nada, só se eu os autorizar... E não pretendo fazer isso...
O motorista recupera o fôlego:
-- Sabe, majestade, eu tinha
quatro anos de idade e morava no interior desse reino, e tudo começou quando
vim para a cidade grande e vi uma coisa que me fascinou muito... Era uma coisa
que eu nunca tinha visto antes e quando a vi me apaixonei por ela ao fim do
mesmo instante...
O rei, muito calmo, como
sempre:
-- E o quê seria essa coisa?
O motorista ainda procurando
conseguir mais fôlego responde com um estranho brilho nos olhos:
-- Era um carro... Um carro
lindo, quase igual a esse, majestade...
O rei querendo entender
direito o que acabou de ouvir:
-- Apaixonou-se por um
carro, é isso?
O motorista quase não
conseguindo conter as lágrimas e enxugando o nariz responde:
-- Sim, majestade, um
carro...
O rei suplica-lhe:
– Por favor, faça-me
entender isso...
-- Não sei como explicar
como isso aconteceu. – responde o motorista – Mas, quando eu vi aquele carro
novinho fiquei desejando um carro igual... Queria um carro para mim... Queria
um carro vermelho, igualzinho àquele que eu vi... Um carro novinho cheirando a
um bebê...
O rei perplexo querendo
entender essa história sem sentido:
-- E o que tem a ver isso
tudo com o motivo pelo qual estava correndo tanto, tirando a vida de duas
crianças?
E ele responde com aquele
brilho em seu olhar:
-- Vossa majestade... É que
quando fiquei fascinado por aquele carro, eu fiz da minha vida uma luta intensa
para adquirir um para mim... Tinha que ser um carro novinho cheirando a um
bebê... Não sei lhe explicar, mas só o carro poderia me fazer feliz... Não
poderia mais viver sem um carro igual aquele... Eu já sabia disso mesmo tendo
apenas quatro anos de idade.
O rei suplica mais uma vez:
-- Pode ser mais sucinto?
Diga-me o que aconteceu depois disso? Que relação tem sua infância com o que
acabou de fazer a essas crianças?
-- Sim, majestade... Depois
que coloquei isso na minha “cabecinha de menino sonhador” comecei a juntar
moedinha por moedinha para comprar esse carro, porque era um carro muito caro e
ele não é fabricado nesse reino... Tinha que ser um desses. Meus pais aprovaram o meu sonho e no mesmo
dia na mesma hora, trouxeram-me muitos cofrinhos de todos os tipos: porquinhos,
cavalinhos, boizinhos etc. Então, a partir daquele momento, juntei todas as
moedinhas que passaram em minhas mãos nos cofrinhos para comprar o meu carro
novinho... Nunca gastei uma moedinha, acredita? Nunca comprei uma balinha...
-- Interessante, -- diz o
rei – prossiga:
-- Nos meus aniversários
sempre pedia dinheiro de presente aos meus amiguinhos e parentes para comprar o
carro... Mesmo depois que me casei, mesmo tendo que viver em casa de aluguel,
mesmo depois que meu querido filho nasceu continuei economizando tudo que podia
e até o que não podia para realizar o meu sonho...
Ouvindo isso o rei coloca a
mão no queixo e faz um gesto com a mão para que o motorista continue o seu
relato:
-- Majestade, eu trabalhava
fazendo horas extras todos os dias até as 22h30min... Trabalhava aos sábados,
domingos, feriados e inclusive nas minhas férias. Para realizar o meu desejo,
trabalhei muito duro por 30 anos...
-- Hum! – o rei fica
pensativo e anda de um lado para o outro.
-- Sabe, majestade, eu tenho
37 anos; consegui o dinheiro todo há três dias apenas e comprei esse carro...
Confesso a todos que nunca passei por essa rua antes, só hoje, pois é o
aniversário de meu filho... Um filho que praticamente nem conheço por estar
sempre ausente, por estar sempre trabalhando. Na verdade, não conheço direito
nem a minha própria mulher... Então, eu estava passando por essa rua por causa
da minha cunhada que mora na rua de cima, ela trabalha perto do meu trabalho e
me pediu uma carona. Eu a peguei no seu emprego e a levei à sua casa; ela
queria pegar uma lembrancinha que havia comprado para meu filho... Ela disse
que iria entrar e sair rapidinho, que demoraria dois “minutinhos”...
Nesse instante o rei faz um
gesto com a mão e o motorista pensa que ele vai dizer algo, mas ele permanece
calado ouvindo-o:
-- Então, majestade, fiquei
dentro do meu carro, motor acelerado e o coração disparado pela emoção. Fiquei
feito um bobo, babando pelo meu carro... Minha cunhada começou a demorar muito,
mas nem me importei, pois contemplava o meu sonho que acabara de virar uma
realidade. Nada poderia me roubar a felicidade que estava sentindo naquele
momento... Eu ficava ligando e desligando os botões... Todos! Testava
tudinho... Cada botãozinho. Comecei a pensar no tanto que havia trabalhado para
conseguir realizar o meu sonho... Fiquei imaginando: finalmente havia conseguido
comprá-lo e ter realizado o meu sonho tão desejado... O único problema é que eu
queria o meu carro vermelho e só tinha esse carro amarelo disponível na loja...
E também não pude fazer o seguro do meu carro, não deu tempo de fazer...
-- Que pena! -- diz o rei,
fazendo um sinal ao motorista para ele continuar:
-- Majestade, durante o
tempo em que estive esperando a minha cunhada fiquei imaginando poder passear
com o meu filho, imaginei-me conhecendo o meu lindo filho, poder brincar com
ele, poder ir pescar com ele... Imaginava tudo isso... Imaginei minha mulher,
meu filho e meus amigos fazendo um passeio em um lago, todos dentro do meu belo
carro... Nesse momento pensei: “hoje é o primeiro dia do resto da minha
vida”... Quando eu estava pensando nisso tudo senti um cano frio no meu ouvido
e ouvi uma voz que dizia: -- “Fique quietinho aí... Se você se mexer eu te
mato... Assalto!”.
Ao ouvir isso o rei fica
atento:
-- Nessa hora, majestade,
fiquei com muito medo que esse menino que aparentava ter uns 16 anos me levasse
esse carro... Pensei: meu carro não tem o seguro... Eu não poderia viver sem
esse carro... Trabalhei muito tempo por ele, não era justo ficar sem ele... Se
esse ladrãozinho me levar o carro eu teria que trabalhar mais 30 anos para
comprar outro... Minha mulher talvez não me quisesse mais se ela tivesse que me
esperar por mais todo esse tempo. Prometi a ela que quando eu comprasse o carro
ficaria o tempo todo com eles! Meu filho iria estar com 32 anos quando eu
comprasse outro... Majestade, por favor, acredite! Ainda, quando imaginava tudo
isso em apenas um segundo, veio uma coisa pior em meus pensamentos: “E se esse
ladrãozinho me der um tiro agora?”, “Pôxa, eu nem conheço o meu filho, nem
desfrutei minha vida... Meu filho vai ficar sem o meu amor de pai? E minha
amada mulher, como ela vai ficar? E minha mãe, meu pai, meus parentes e
amigos?” Majestade, pensei tantas coisas em frações de segundos!
O motorista se cala por um
segundo e olha para o rei e continua:
-- Majestade, quando
imaginei que nunca mais iria ver o meu filho e minha família eu... Eu fiquei
com muito medo de morrer... Sempre ouço falar que assaltantes matam suas
vítimas em casos assim. Quando pensei nisso tudo, em questão de segundos me
desesperei... Acredite, majestade! Eu imaginei o rosto do meu filho lá nas
nuvens, ele dizia: “Vem me ver, Papai?... Não quero que você morra, Papai...
Foge, Papai!” – Nesse momento o motorista olha nos olhos do rei e diz -- Nesses
segundos eu fiquei com muito medo de morrer e ficar sem tudo que tenho! Aquela
arma que estava na mão daquele ladrãozinho iria me privar de continuar a minha
vida! Minha história! Aquela arma iria me privar de ver o meu filho! Majestade,
eu não queria ficar sem o meu carro que tinha cheirinho de bebê... Não queria
morrer... Não queria que tudo acabasse assim! Majestade, naquele instante
imaginei ouvir a voz do meu filho... Acho que isso estimulou os meus instintos
e eu só queria ficar longe daquele revólver! Então, sem que eu percebesse
comecei a acelerar... Acelerar e acelerar cada vez mais e mais! Eu não queria
morrer... Queria sim ver o meu filho... Queria ficar cada vez mais longe
daquela arma que poderia me afastar do meu filho e de tudo que planejei para
minha vida!
O motorista enche os pulmões
de ar e diz:
-- Majestade, planejei
tantas coisas na minha vida! Eu acelerava a cada vez mais o meu carro e ia de
encontro à imagem do meu filho lindo que minha mente, minha saudade, meu amor
por ele e o meu medo projetou nas nuvens... Meu filhinho lindo que faz
aniversário de dois anos hoje... Majestade, naquele momento não me lembrava de
estar dentro de um carro, não lembrava que havia ruas no mundo, que ruas têm
curvas, que há crianças inocentes brincando nas curvas das ruas. Majestade,
acredite... Eu não conseguia pensar em nada, a não ser em salvar a minha vida.
Ficar com o meu sonho lindo que havia lutado tanto para ter... Naquele momento
eu estava entregue ao medo... Só ao medo e à vontade de ver o meu filho e viver
o meu sonho há muito planejado e idealizado...
O motorista toma mais fôlego
e diz com lágrimas nos olhos:
-- E quando acordei vi essas
crianças mortas, vi vossa majestade me olhando e todas essas pessoas querendo
me matar! Chamando-me de assassino...
Nesse instante o rei começa
a andar de um lado para o outro sem parar. As câmeras de TV o seguem. E ao fim
de um pequeno instante ele pergunta ao motorista que está com uma cara de medo
ainda maior que no começo:
-- Você estava com medo de
morrer e de perder o seu carro por isso tirou a vida de duas crianças
inocentes?
O motorista olha para o rei
e em nova choradeira diz:
-- Sim, majestade, eu nem
sabia o que estava fazendo!
Nesse instante o povo começa
a gritar em coro.
-- Morte ao assassino das
crianças! Morte ao assassino das crianças! Morte ao assassino de crianças! Como
ele iria se sentir se alguém matasse o filho dele?
Outros populares dizem
também:
-- Ele matou as crianças,
nem pensou nelas! Agora é a vez dele também!
O rei pensativo diz:
-- Sim, ele matou as
crianças... Mas não as matou porque quis. Como vou condenar alguém por ter
medo? Ter medo não é crime, é? -- Houve um silêncio momentâneo e o rei
coloca a mão no ombro do motorista e diz:
-- Meu bom homem, como
poderemos acreditar no que você nos contou? Há
um modo de evidenciar o que disse? Pode nos convencer disso? Se puder,
pode começar, seremos todos seus ouvintes atentos... Mas, cuidado para não cair
em contradição! Porque se você inflamar esse povo nem eu poderei detê-lo... Por
isso, aconselho a dizer a verdade, somente a verdade... Senão tudo o que disser
poderá ser usado contra você! Poderá morrer pelo o que você disser, mas também
poderá se explicar e ser inocentado...
O povo não gosta muito do
que o rei diz e o motorista que está extremamente assustado com a reação dos
populares diz ao rei:
-- Majestade, eu vim com a
minha cunhada...
Quando o motorista diz isso
se ouve um grito no alto da ladeira.
-- Cunhado! O que está
acontecendo? Eu demorei... Resolvi tomar um banho e trocar de roupas... O que
aconteceu?
O rei percebe que a mulher
trazia em suas mãos um embrulho num papel presente e percebe que essa parte da
história do motorista era verdadeira e pergunta a ela:
-- Você estava com esse
homem há pouco e ele te deixou em sua casa e estava lhe esperando?
-- Sim, majestade, é o
aniversário do filho dele, o meu sobrinho lindo, ele faz dois aninhos hoje...
Há uma festa nos esperando nesse momento.
O rei faz um resumo do que
aconteceu e do que motorista lhe falou. E ao fim de um instante pede para que a
cunhada do motorista lhe confirme ou não a sua explicação e ela confirma
dizendo:
-- Sim, majestade, tudo que
ele falou é verdade... Ele queria mesmo esse carro. O meu cunhado também tinha
síndrome de pânico quando criança... Veja no rosto dele... É cheio de
cicatrizes porque ele tinha medo do “bicho papão”... Quando sonhava que esse
bicho iria pegá-lo saia correndo no escuro de seu quarto batendo a cabeça e o
rosto em tudo que estava à sua frente, por isso fez vários ferimentos na
face... Mas, quando ele fez 11 anos parou de acreditar nisso e nunca mais
sonhou com esse bicho... Nunca mais teve medo de perder a sua vida... Acho que só
hoje ele realmente teve outro grande medo em sua vida... Talvez isso explique a
sua disparada com esse carro, atropelando e matando esses inocentes... Pobres
crianças e infeliz do meu cunhando!
A cunhada do motorista diz
isso e derrama uma lágrima pelas crianças mortas e pelo seu cunhado e quando
tudo isso foi dito do motorista, se aproxima um homem que segurava uma sacola
de compras e com indignação diz ao rei:
-- Desculpe-me, majestade,
mas acho que da distância de onde estava o carro até aqui dava muito bem para
esse homem se lembrar que estava em um carro, lembrar também que havia ruas e
que poderia ter alguém nas ruas e, é claro, parar o carro e evitar as mortes
dessas crianças inocentes!
Nisso o povo levanta suas
armas: paus, pedras e ferramentas para matar o motorista dizendo:
-- É, esse homem está certo!
Totalmente certo!
O rei pergunta ao homem da
sacola de compras:
-- Meu bom homem, você é
profissional da área da mente humana? É psicólogo, psiquiatra, filósofo ou o
quê? Qual é o seu campo de atuação?
O homem da sacola de compras
o responde morrendo de vergonha:
-- Não, majestade, eu sou um
simples pedreiro, não tenho nem leitura. Não sei ler nem escrever, mas acho que
esse homem está mentindo e deve ser punido! Ele deve ser condenado a morte, com
certeza!
Com o semblante apresentando
muito incômodo o rei olha primeiro para o pedreiro depois para o povo e diz:
-- Esse homem aqui não sabe
o que diz, não tem competência para opinar... Acha que devemos matar uma pessoa
só porque acredita ter, não se sabe baseado em quê, uma culpa sem fundamento. É
um tolo que com uma boa intenção queria ajudar... Coitado dele, este não passa
de um pobre infeliz palpiteiro... Por acaso, aqui tem alguém que realmente
acredita que uma pessoa é capaz de pegar um carro e sair por aí a fim de matar
criancinhas que estão brincando pelo simples gosto de matar?
Quando o rei diz e isso uma
mulher de laços no cabelo se aproxima e diz com uma voz muito doce e suave:
-- Mas, majestade, o senhor
não acha que esse motorista deveria, ao invés de ficar trabalhando tanto para
conseguir esse carro muito caro, comprar um carro usado? E por que não um carro
popular igual o meu? Agindo assim ele viveria ao lado de sua família, veria seu
filho crescer, assim como eu vejo o meu... Acho que essa atitude dele causou as
mortes das crianças. Acho que ele foi muito mesquinho. Se o senhor quer saber a
minha opinião, desculpe-me, pela minha intromissão... Mas acho que ninguém
precisa de tanto luxo para ser feliz! Se ele fosse mais humilde, isso, com certeza,
não teria acontecido a essas criancinhas! Acho que ele merece um castigo sim,
serviria muito, como exemplo, para as pessoas. Temos que ser humildes, não
precisamos de tantos luxos para sermos felizes...
Ao ouvir isso o rei retruca
com a mulher de laços no cabelo:
-- Minha linda e doce
senhora, queria lhe dizer que concordo sim com você no que me disse a respeito
de que ele poderia sim comprar um carro mais barato e tudo... Agora, castigá-lo
por ele ser mesquinho e querer luxo, isso eu não posso fazer... Isso não me
parece um crime... Eu poderia aconselhá-lo...
A mulher de laços no cabelo
se revolta com o rei e diz:
-- Mas, Majestade...
-- Mulher... Querer uma
coisa cara e trabalhar a vida toda para obtê-la não é um crime... Acho que ele
não deveria ser assim... Mas ele não fez nada contra a lei... Eu, pessoalmente,
não gostei do que esse homem fez com a família dele: a abandonou
praticamente... Deveria ficar mais presente com a família que ele formou, mas
ele tinha um plano para reparar tudo de mau que a ausência dele propiciou.
Apesar de não concordar com essa atitude, não posso puní-lo por isso...
Acredito que ele não tem culpa de não ser sábio o bastante para perceber
isso... Não consigo ver o crime de não ser sábio, se isso fosse crime teríamos
que construir uma prisão que coubesse quase todos os habitantes desse reino ou
quem sabe se não seria necessário uma que coubesse o mundo todo!
E tendo o rei dito isso
aparece uma mulher que se diz amiga da mãe das crianças mortas e diz aos
prantos:
-- Majestade... Majestade...
Por favor, se coloque no lugar da mãe dessas crianças! Coloque-se no lugar do
pai delas e faça o que é justo! Tente entender a dor deles! Veja como eles
estão sofrendo!
E quando escuta o pedido da
amiga da mãe das crianças o rei prontamente lhe responde:
-- Mulher, para sermos
justos e sábios não podemos nos pôr no lugar de ninguém: nem da mãe das
crianças, nem no lugar dos parentes e amigos do motorista... Pois seria
impossível se assim fosse feito agir imparcialmente e fazermos justiça... Temos
que analisar fria e neutramente os fatos e encontrar onde está o erro e fazer
por onde não aconteça mais...
Tendo o rei dito isso a mãe
das crianças se aproxima desesperadamente:
-- Mas, majestade, meus
filhos morreram e eu continuo sofrendo a dor da ausência deles! Quem vai pagar
por isso? De quem é a culpa disso então? Eu só sei que meus filhos morreram e
eles eram inocentes, não tiveram como se defender! Eu acredito, majestade, que
a culpa não era deles e sim desse motorista! Porque se ele tivesse comprado um
carro mais barato isso não teria acontecido! Talvez ele tivesse ido por outro
lugar se tivesse com outro carro... Sei lá! Porém, se vossa majestade acha que
ele não tem culpa quero que o senhor descubra o culpado, já que o senhor cisma
em achar que ele é inocente e bonzinho... Onde está o culpado então? Descubra-o
e puna-o severamente pois acho que deve haver um culpado, ou o senhor não
entende assim? Ou o senhor entende que meus filhos são culpados pelas próprias
mortes?
Quando ela disse isso
acredita que com essas palavras colocaria o rei contra a parede e ele puniria o
motorista e ela teria a “justiça feita” e sai de perto do rei com um sorriso
dos vitoriosos nos lábios.
O rei, ao fim de um longo
minuto, começa a andar de um lado para o outro por alguns instantes.Todos olham
para ele e logo ele pergunta à mulher que acaba de perder os seus filhos:
-- Você tem toda a razão,
seus filhos são inocentes, temos que encontrar o culpado e dar exemplos. Porém,
primeiro diga-me, mulher... Onde você estava na hora do acidente? Diga-me o que
você estava fazendo quando seus filhos foram atropelados e mortos por esse
carro?
A mãe das crianças fica
branca de medo ao receber do rei essa pergunta inesperada, assusta-se e
balbuciando responde:
-- Majestade, eu estava
fazendo comida para meus meninos, ao mesmo tempo, estudando um livro de
exercícios de língua estrangeira... Faço esse estudo visando me qualificar,
pois quero arrumar um bom emprego, pretendia educar bem os meus filhos. Agora
não adianta mais nada, eles estão mortos... E a culpa é toda desse motorista! –
Ela aponta o dedo para o nariz do motorista, diz isso começa a se lamentar
muito e a multidão pergunta ao monarca se ele não está vendo as lágrimas da mãe
das crianças e sugerem que ele pare de penitenciar a mãe das vítimas com
perguntas tolas, encontre logo o culpado e puna-o.
E o rei dá ordens para o
guarda que está ao seu lado:
-- Sabe onde essa mulher
mora? – o guarda diz que sim -- Então vá ver se tem comida no fogão dela e veja
também se encontra algum livro de exercício de língua estrangeira.
A multidão fica incrédula
com a atitude do rei.
Quando o guarda volta
comunica ao rei que não tinha comida alguma no fogão da casa daquela mulher e
muito menos livro de língua estrangeira.
O rei já estava desconfiado
que a mãe das crianças não os tratava corretamente, convenceu-se disso logo que
viu a situação deles. Então, o rei pergunta à multidão:
-- Alguém aqui presente sabe
onde esta mulher estava na hora do acidente?
Ninguém se manifesta e o rei
diz:
-- Eu digo que se alguém
souber onde essa mulher estava e não me contar darei um castigo... Vou fazer
isso em praça pública... Todos vão saber quem é omisso.
E tendo dito isso uma mulher
tremendo de medo conta ao rei:
-- Majestade, sou a comadre
dela... Posso lhe garantir que ela estava no meu portão... Ela estava me
contando que a vizinha dela chegou ontem de madrugada num táxi, que ela entrou
e saiu rapidinho; a comadre acha que a vizinha está traindo o marido porque ele
trabalha à noite.
O rei pergunta onde está a
tal vizinha. Passa-se um período curto e quando ela é encontrada o rei a
interroga:
-- Você realmente chegou de
madrugada ontem? Pode nos dizer o que estava fazendo?
A vizinha da mãe das
crianças, em prantos, toda vestida de preto, começa responder:
-- Majestade... Sabe...
Minha mãe morava no interior e ela veio ver a mim e a minha irmã que mora em
outra parte do reino... Quando ela chegou fomos de imediato para ver a minha
irmã a fim de conversarmos todas juntas... Só que, quando estavamos conversando,
depois de muito tempo, mamãe começou a passar mal e desmaiou... Quando a
levamos para o hospital o médico perguntou se ela não estava tomando algum
medicamento... Mamãe esqueceu a sua bolsa em minha casa... Eu nem pensei que
tinha algum remédio dentro da bolsa dela... Foi o médico que perguntou se ela
tinha alguma doença e se estava tomando medicamento. Foi quando voltei de táxi,
de madrugada... Fui pegar a bolsa dela... Descobrimos que mamãe tinha uma
doença muito grave e crônica e nunca havia nos dito porque ela não queria nos
preocupar... Mamãe sempre foi assim, nunca queria nos preocupar... Mas, foi
tarde demais, mamãe faleceu, majestade, não deu tempo...
Página 2
Depois que a vizinha da mãe
das crianças disse isso, sai.
O rei comunica à mãe das
crianças:
-- Acho que a gente já tem
um culpado pela morte dos seus filhos.
A mãe das crianças pergunta
com espanto:
-- Quem, majestade, a minha
vizinha?
O rei olha para a mãe das
crianças e responde-lhe friamente:
-- Você...
As pessoas se enfurecem com o
rei e a mãe das crianças pergunta-lhe nesse instante:
-- Eu?... O que eu fiz?
O rei muito decepcionado
responde:
-- Você matou seus filhos...
-- Eu? E como eu fiz isso?
Eu nem estava perto deles... – pergunta incredulamente.
-- Por isso mesmo, você
nunca estava perto deles...
-- Eu sempre estava com
eles, eles são meus filhos, eu os amava...
-- Você mentiu para mim...
Você não estava fazendo comida nem estudando língua estrangeira... Você não
cuidava dos seus filhos direito! Você os maltratava e muito, não tinha cuidado
com eles...
Ouvindo isso a mãe das
crianças fica muda e o rei diz para ela:
-- Você poderia muito bem
ter evitado a morte de seus filhos... Se tivesse cuidado dos seus filhos
direito isso não teria acontecido... Seus filhos eram muito pequenos e
inocentes, eles não tinham como se defender do perigo, eles não sabiam de
nada... Você os deixou em frente a uma ladeira muito perigosa onde um carro que
poderia perder os freios e matar as crianças que estavam aqui sem perceber o
perigo.
-- Mas eu não sabia, eu sou
advinha?
-- Aqui onde as crianças
estavam é um lugar muito perigoso, poderia um carro em fuga da polícia, ou um
carro desgovernado, ou uma pessoa que tem algum tipo de problema e dorme ao
volante... Ainda se outra criança ou uma pessoa sem juízo jogasse uma coisa que
rolasse ladeira abaixo e atingisse seus filhos... Em frente a uma ladeira e com
curva não é lugar de crianças brincar; mas elas não conseguem entender isso;
são os pais que devem orientá-los a esse respeito. Você deveria cuidar da vida
deles e não da vida das pessoas que sabem o que estão fazendo como é o caso da
sua vizinha... Você os matou... Sua negligencia os condenou a morte.
A mãe das crianças diz ao
rei nesse momento:
-- Mas, majestade, que culpa
tenho se as pessoas fazem coisas erradas? Se as pessoas dirigem seus carros de
maneira errada, tenho culpa? Não tenho culpa por essas coisas acontecerem,
tenho? Tenho culpa que existam ladeiras e curvas? Não tenho culpa se as pessoas
não se preocupam com a vida dos outros! Acho que as crianças têm que ser
livres...
O rei calmamente responde:
-- Culpa das pessoas
dirigirem de maneira errada não; mas você teriam que cuidar dos seus filhos
corretamente. Já estava na hora deles estarem em casa, terem tomado banho e
alimentados. Se tivesse feito o que deveria, não os teria perdido. Suas
crianças não tinham condições de saber onde é o lugar seguro para brincar! Eles
não sabiam que horas tinham que tomar banho! Você que os colocou no mundo teria
que orientar e zelar por eles.
A mãe das crianças entra em
prantos novamente. Nesse instante o rei diz ao povo que está em silêncio e só o
observa atentamente:
-- Vamos descobrir mais
responsáveis por essas mortes... Onde está o pai das crianças?
O pai das crianças se
aproxima:
-- Majestade, estou aqui...
O rei dá uma olhada de
reprovação para o pai das crianças e pergunta-lhe, olhando-o nos olhos:
-- Pode me dizer onde você
estava na hora em que seus filhos estavam sendo negligenciados pela mãe deles?
O pai das crianças
responde-lhe com a voz trêmula:
-- Majestade, estava fazendo
horas extras no meu trabalho, pois queria dar o melhor para os meus filhos...
O pai das crianças diz isso
e derrama uma lágrima; e o povo se comove com essa cena. O rei desconfiado de
tantos “cuidados” da parte dos responsáveis pelas crianças mortas diz:
-- Eu quero saber se alguém
sabe onde esse homem estava e o que estava fazendo na hora do acidente
envolvendo seus filhos. Quero agora, se eu souber que alguém sabe onde ele
estava e omitiu essa informação vou dar o castigo! Vou fazer isso em praça
pública... Todos vão saber quem é omisso.
Quando o rei diz isso se
apresenta um homem que usava uns óculos de aros azuis:
-- Majestade! Majestade!
Esse homem é meu amigo, nós temos uma rinha para fazer brigas de galo e isso
acontece todos os dias. Ele estava lá comigo e muitas pessoas que estão aqui
presentes também se encontravam conosco.
O rei ao ouvir isso fica
indignado e diz ao pai das crianças mortas vítimas do atropelamento:
-- Você também é um dos
responsáveis pela morte dessas crianças inocentes, você ajudou na morte de seus
próprios filhos...Você preferiu deixar seus filhos abandonados à própria sorte
para pôr animais para se agredirem influenciados por seus instintos selvagens e
por pessoas mais selvagens ainda... Vocês...
Por pouco o rei não dá um
tapa na cara do pai das crianças; ele faz muito esforço para se conter. E,
nesse instante, veio à sua presença uma mulher de cabelos longos com um laço
vermelho amarrando em seu lindo cabelo e pergunta ao monarca:
-- Majestade, então me deixe
entender uma coisa, por favor? O senhor está dizendo que esse motorista é
inocente e que os pais dessas crianças são os culpados? Eu acho que isso não é
justo. O senhor parece que fez as vítimas serem os culpados e o culpado ser
inocente... É isso mesmo que eu entendi?
O rei olha nos olhos da
mulher de cabelos longos e responde-lhe:
-- Mulher, eu digo que os
pais são responsáveis por isso que aconteceu com as crianças... Mas, na
verdade, digo que eles não são os únicos culpados por isso, digo que todas as
pessoas aqui presentes têm um pouco de culpa também...
E tendo ouvido isso o povo
coloca a mão na boca tapando-a em sinal de reprovação e indignação à realeza e
o rei faz uma pausa e ao fim de um instante pergunta ao público que não tira os
olhos dele:
-- Quero saber quem são as
pessoas aqui presentes que viram essas crianças nesse lugar perigoso antes do
acidente?
Quando o rei pergunta isso
todas as pessoas respondem que tinham visto as crianças e que não era a
primeira vez que elas as viram ali até tarde da noite.
O rei ouvindo esse fato diz
com certa fúria olhando para todos:
-- Então todos vocês têm uma
parcela de responsabilidade nas mortes desses inocentes...
Quando o rei diz isso o povo
fica muito bravo e muitas das pessoas o respondem que não entendem o motivo
pelo qual ele está culpando-as se não haviam feito nada.
-- Por isso mesmo que vocês
têm culpa... Todos viram essas crianças aqui sendo mal cuidadas e
abandonas pelos pais negligentes e não fizeram nada para ajudá-las. Pois
deveriam ter chegado nos pais desses inocentes e tê-los alertado de que as
crianças precisavam ser mais bem cuidadas e amadas verdadeiramente. Mesmo os
que viram essas crianças e não sabiam quem seriam os pais delas, deveriam
perguntar às próprias crianças quem seriam os seus pais. Oras se agissem assim
poderiam ter evitado essas mortes; porém, não fizeram nada, se omitiram, se
furtaram ao direito de fazerem uma boa ação e salvar duas criancinhas
inocentes. A omissão de vocês os tornam responsáveis pelas mortes dessas
crianças, ou seja, todos vocês são assassinos também! Sim essas atitudes de
omissão os tornaram co-autores dessas mortes!
Quando o rei diz isso um
homem loiro se aproxima dele e pergunta-lhe:
-- Vossa majestade, diga-me
uma coisa... Por que eu deveria me preocupar com as crianças alheias? Acho que
essa obrigação deveria partir dos pais apenas; não é minha obrigação! Eu não
tenho a obrigação de ser babá de quem eu nem conheço... Não acho que sou um
assassino como acaba de nos sentenciar... Não me considero co-autor de nada!
O rei ouve atentamente o que
o homem loiro diz e responde-lhe:
-- Meu caro cidadão, gostei
muito da sua pergunta, mas antes de lhe responder vou lhe fazer outra pergunta;
você ficou muito triste com a morte dessas criancinhas?
O homem loiro responde-lhe:
-- Sim, majestade, fiquei
muito triste e revoltado e digo-lhe o seguinte: se o senhor tivesse demorado
mais um segundo para chegar aqui eu mesmo teria matado esse motorista assassino
com as minhas próprias mãos! Essas crianças tinham uma vida inteira pela frente
e tudo isso foi interrompido porque esse cretino e seu carro novinho cheirando
a... Acredito que ele deveria ser linchado mesmo! Acho que isso seria o
certo... Se o senhor quer saber a minha opinião é isso que eu penso...
O rei responde-lhe que não
quer saber a opinião dele e olha para o motorista que está abraçado com a sua
cunhada e volta o seu olhar ao homem loiro e lhe faz outra pergunta:
-- Amigo, acredita mesmo que
matar esse motorista seria a melhor coisa a ser feita? Porque esse proceder
também não é responsabilidade sua, fazer justiça com as próprias mãos... Há
pouco me disse que ficou muito triste com a morte desses inocentes... Que, por
sua vez, poderia ter sido evitada se alguém simplesmente pegasse-as no colo e
as tivesse levado para a casa delas ou as ensinasse a brincar em um lugar
seguro... Ou alguém tivesse chamado a atenção de seus pais para que elas fossem
mais bem cuidadas. Se você tivesse feito essa boa ação para esses inocentes,
eles estariam agora em casa, brincando ou se alimentando, crescendo para ter um
futuro. Eles poderiam viver em paz até morrer de velhice ou de alguma doença,
se fosse o caso... Mas você se omitiu, furtou-se do dever e da oportunidade de
fazer esse bem a elas... Teve a oportunidade de fazer algo de bom e não o
fez... Você, meu justiceiro infeliz, acreditando que conhece o que é a justiça
quer se vingar de alguém que não fez uma maldade propositadamente, foi uma
fatalidade...
O homem loiro não quer dar
razão ao rei, balança a cabeça negativamente e o rei diz:
-- Vocês todos são realmente
estranhos... Na ocasião em que foi necessário que se intervissem não o fizeram;
ficaram quietos iguais lesmas, ficaram passivos... Agora, quando é para ficarem
calmos querem fazer algo totalmente inadequado e agem iguais aos leões. Mas não
lhes cabe fazer a justiça... Todos acham que podem decidir quem deve morrer ou
viver, querem ter esse papel. Querem fazer coisas que não podem, nem devem.
Fico imaginando todos vocês passando por aqui e vendo esses menininhos sendo mal
cuidados e se negando a ajudá-los... No entanto, agora choram e lamentam suas
mortes e não se sentem culpados por isso; querem achar um culpado para matá-lo
e depois irem dormir tranquilos com as consciências limpas acreditando que
farão um bem muito grande para essas crianças vítimas da omissão de todos! Saibam
que vocês ajudaram a matar essas crianças! – O rei suspira e diz – Esse
motorista com o seu sonho, seu medo e sua ignorância! Sim, concordo que esse
motorista é pobre de sabedoria sim... Sei também que se ele não quisesse tanto
esse carro com cheirinho de bebê... Não teria atropelado essas crianças, que
têm cheirinho de bebê de verdade... Sei também que esse carro pode ser
consertado e que essas crianças não vão mais poder ser consertadas... Mas será
que vocês não entendem que ninguém compra um carro novo com o único propósito
de sair por aí matando crianças? Se vocês matassem esse motorista seriam
assassinos novamente, pois já mataram essas crianças por omissão! – outro
suspiro do rei – por que todos vocês não fizeram nada quando era possível? Por
que querem tanto fazer injustiça agora? – Nesse momento o rei ri e diz – Agora
vocês reuniram-se com pedras, paus, ferramentas de trabalho e armas de fogo e
agem com uma força muito grande quando é para fazer o errado... Unem-se,
reúnem-se, dão idéias uns para os outros a fim de fazer a coisa mais errada
possível e não têm vergonha de fazer as coisas quando são injustas!
O rei faz uma cara de
desolação e diz: -- Eu fico imaginando vocês fazendo “justiça” em nome das
crianças, matando alguém em nome delas sem que elas pedissem... É como se elas
fossem mandantes disso. Acho que elas pediram para viver e vocês as impediram
disso, vocês todos as privaram do caminho natural: a vida. Parecem nem perceber
que tudo que acontece no mundo inteiro é causado por nós mesmos. É tudo culpa
de todas as pessoas... Somos vítimas, somos cúmplices, somos testemunhas, somos
autores e co-autores de todos os fatos que acontecem com todas a pessoas. Tudo,
sem exceção, é causado porque nós fazemos ao deixamos de fazer alguma coisa que
resultou no produto final das nossas atitudes certas ou erradas... Então todos
nós devemos morrer por esse crime desses inocentes!
Uma jovem negra linda usando
um vestido curto florido pergunta ao rei:
-- Majestade, todos, sem
exceção? Acha mesmo que todos temos culpa nessas mortes e em todos os eventos
do mundo?
-- Sim... Veja bem como são
as coisas: esse carro, cheirando a um bebê que estamos vendo aqui... Ele é
capaz de correr a 320 Km/h ...
Mas, mesmo em uma auto-estrada é proibido correr a mais de 120 Km/h , não é estranho
que carros sejam capazes de correr mais do que o limite permitido por lei? Não
é estranho que sejam fabricados carros velozes desse jeito? É estranho que as
fábricas os fabriquem; mas também não deixa de ser estranho às pessoas não
reclamarem que essas máquinas matem pessoas... É estranho que as pessoas
assistam a essas coisas passivamente, que não façam nada para impedir isso! Por
que as pessoas têm tanta pressa de ir para os lugares? Acredito que a pressa
das pessoas não justifica as mortes que essas máquinas causam quando dirigidas
por imprudentes, bêbedos, inconseqüentes, pessoas que têm doenças que podem
causar acidentes etc... Acho que as pessoas deveriam sim se reunir para fazer
com que essas máquinas nem existam mais. Ou, pelo menos, fazê-las correr no
máximo a 50 Km/h ...
Acho que a essa velocidade seria melhor!
Quando o
rei diz isso aparece o garoto que estava querendo assaltar o motorista. Ele
veio com alguns amigos. Ele veio se desculpar porque, na verdade, a arma que
ele usava era de brinquedo e o assalto era apenas uma espécie de batismo para
ele poder entrar em uma gang de rua. Ele diz que se sente muito mal com o que
aconteceu. Diz que não sabia que iria acontecer tanta coisa por causa de uma
brincadeira. O rapaz começa a chorar muito e revela ao rei que o motivo que o
levou a aceitar ser um membro dessa gang era o fato de precisar de carinho e
atenção e os seus pais não o davam, pois seus pais não queriam ter um menino e
sim uma menina; por esse motivo, o desprezava. O garoto diz ainda que nessa
gang havia vários garotos que não eram amados pelos pais. Alguns pelo fato dos
pais não terem tempo de dar o carinho; outros, porque os pais queriam filhos
mais lindos e conta várias desculpas que os pais davam para não amar os filhos.
O rei entende que o garoto
era apenas mais um dos culpados por esse acidente ter acontecido e diz:
-- Esse garoto também é uma
vítima do que ele mesmo ajudou, sem querer, a causar... Vítima de sua
brincadeira sem a menor graça que só causou tantas desgraças. Porém a
consciência desse garoto vai torturá-lo para sempre. Também toda a sociedade
tinha uma parcela de culpa pelo que esse garoto fez. Os pais do rapaz têm uma
parte de culpa por não saber educar o filho e não amá-lo.
O rei diz ainda que os
amigos do garoto também tinham uma parcela de culpa por não aconselhar esse
rapaz a fazer as coisas certas. Que as pessoas que sabem que existem armas de
brinquedos e não fazem nada para que elas não existam mais também têm culpa. As
pessoas que sabem que existem armas de verdade e também não fazem nada para que
elas deixem de existir também têm culpa.Todos são culpados por essas crianças e
muitas outras que morreram ou foram feridas.
E o rei continua a falar:
-- Eu, a partir de hoje, vou
criar uma lei que só vai poder ter filhos quem puder e souber educá-los
corretamente. Para ter filhos agora os interessados terão que fazer uma
avaliação como em um vestibular provando que são capazes de cuidar, educar e
amar suas crianças. Não quero que mais nenhuma criança seja maltratada por seus
pais como esses aqui que abandonaram seus filhos a própria sorte e estes
morreram atropelados de um jeito tão estúpido!
O rei aponta o dedo para os
corpos das crianças mortas:
-- Olhem para essas crianças
mortas por causa da incompetência de seus pais! Vou fazer essa lei, pois não
quero que crianças cresçam e sejam como esse motorista aqui, desorientado de
valores realmente importantes... Não quero que crianças fiquem juntando
moedinhas para comprar um carro tão caro; quero que os pais sejam capazes de
orientar seus filhos, ensinando-lhes valores melhores que esse... Quero pais
que quando souberem que seus filhos se apaixonaram por algo tão caro os ajudem
a entender que essas coisas não trazem felicidade alguma, só trazem desgraças
como a que acabamos de ver. Quero que as crianças não sejam como esse infeliz
rapaz com essa arma de brinquedo, que, para se sentir importante no meio de uma
sociedade, seja capaz de fazer uma coisa como essa e ter problemas com a
consciência para o resto da vida...
O rei leva a mão ao queixo e
diz:
-- Mas para esse vestibular
que estou planejando vai ter cursos para preparar as pessoas e todos receberão
os ensinamentos sobre como se deve criar um filho, como alimentá-lo, como
protegê-lo etc... Mas só terão permissão de ter filhos quando vocês forem
capazes de criá-los sem prejudicá-los... Os postulantes terão que estar cientes
de que poderão nascer meninos ou meninas e que nem todos os filhos são tão
lindos como eles gostariam que fossem; os interessados terão que provar que os
amariam mesmo assim! Não quero que crianças sejam discriminadas pelos próprios
pais!
Nisso o tal repórter atento
pergunta ao rei:
-- Não acha essa lei muito
severa, majestade?
-- Não acho não, pois quando
vocês conseguirem passar na avaliação terão permissão de ter filhos! Eu
acredito que ter leis tão duras assim é o certo quando é para salvar as
crianças e... E não quero ver crianças morrendo de maneira tão abominável, não
quero ver crianças sendo responsáveis por mortes de outras crianças, não quero
ver outras crianças agirem iguais a esse pobre e infeliz motorista! Quero
realmente que todas as pessoas tenham consciência para fazer o que é certo,
justo e verdadeiro; sem serem forçadas por lei a agirem assim... Quero, no
futuro, que todos percebam a necessidade de aprender as coisas para sermos
realmente felizes em um mundo justo para todas as pessoas...
O repórter atento fez menção
de perguntar algo, mas desistiu e o rei continua:
-- As crianças do futuro, a
partir dessa nova lei, quando tiverem essa experiência que o nosso amigo
motorista aqui teve de se apaixonar por um carro tão caro irão receber
ensinamentos como esse de seus pais preparados para educá-las: “Meu filho, esse
carro é uma grande besteira, ninguém precisa de um carro tão caro para ser
feliz; só os tolos pensam assim”, “pega essas moedas e compre tudo em balas e
divida com seus amigos ou guarde um pouco de moeda para comprar mais balas
amanhã se forem muitas moedas”. E os pais vão ensinar valores como: o amor, a
amizade e o carinho como forma de serem felizes, como forma de vida. Os pais
sábios do futuro, nesses casos, ensinarão aos filhos que eles tem que brincar e
não juntar dinheiro para comprar carros e as novas crianças, quando forem
adultas, ensinarão isso aos seus filhos também e seus filhos aos filhos deles e
assim para sempre.
Ao dizer tudo isso o rei
finalmente consegue ser visto com alegria pelo povo que agora o vê como o homem
mais sábio e justo que já existiu.
Tendo acontecido isso todos
dão uma pausa para refletirem e a cunhada do motorista se aproxima do rei e
dá-lhe um abraço, começa a chorar e diz:
-- Majestade, o senhor
realmente é muito sábio, justo e tudo de maravilhoso! Poderia nos dizer onde o senhor
se encontrava? Pois a gente nunca ouviu falar a seu respeito até o dia que saiu
a pesquisa, há alguns meses, sobre o homem mais sábio do mundo. Sua vida é um
mistério para nós. Onde adquiriu tanta sabedoria? Pode nos contar tudo sobre o
senhor?
O rei faz outra pequena
pausa e começa a contar sobre a sua vida:
-- Olha... Todos sabem que
eu tenho 85 anos de idade, que estou reinando faz apenas cinco dias... Sabem
que, quando meu pai sofreu aquele acidente e morreu, fui convocado para ser
coroado rei... Todos sabem que quando eu tinha três anos de idade, minha mãe me
deixou ir para um reino distante para estudar a razão da vida, o sentido da
vida, encontrar a verdade com um tio eremita nas montanhas...
Todos ouviam com atenção e
respeito o que o rei dizia:
-- Então, desde essa tenra
idade, quando fui para o oriente, nunca mais tive notícias de meus pais... Eu
estudei matemática, física, astronomia, biologia, botânica, psicologia,
direito, estudei vários idiomas, estudei música, teatro, dança, artes marciais,
todas as ciências e filosofias que existem... Eu diria que os filósofos,
sábios, cientistas e poetas de todos os países e de todos os tempos se
expressaram em várias línguas diferentes, mas neles inflamam o mesmo fogo do
saber. Meus queridos súditos, se vocês soubessem a sublime felicidade que
experimento ao entender todos os grandes sábios desse mundo iriam querer
conhecê-los também! Eu conheço muitas coisas graças a esses gênios... Consigo
entender sobre a natureza, sobre a mente humana e sobre tudo que esses sábios
puderam por em livros, pois tudo que o pensamento humano inventou, conheceu e
descobriu durante todos os séculos acha-se comprimido dentro do meu cérebro,
graças aos livros...
O povo o observa com
admiração e ele diz:
-- Sou mais inteligente que
todos os autores de todos os livros, pois tive a oportunidade de conhecer e
estudar tudo o que eles pensavam! E tudo começou, quando, minha mãe, a rainha,
queria que eu fosse o homem mais sábio do mundo, ela queria que um dia eu fosse
capaz de governar com sabedoria e justiça... Um dia ela me mandou uma única
carta explicando que me deixou ir com o meu tio por causa de um sonho que ela teve
onde, se eu fosse estudar com meu tio, um dia, o mundo todo iria me ouvir como
o rei mais sábio e justo de todos os tempos.
-- Longa vida ao rei! –
brada um súdito – Longa vida ao rei! – responde o povo em coro feliz por ter um
réu tão sábio e justo.
-- Se vocês estudarem todas
as filosofias de todos os tempos de todos os homens como eu fiz, poderiam ser
tão sábio quando eu sou! -- Longa vida ao rei! – brada um outro súdito – Longa
vida ao rei! – responde o povo em coro novamente.
-- Agora vou falar sobre
como cheguei até aqui: faz um ano que um grupo de pesquisadores e cientistas
foi às montanhas... Eles estavam lá para testar a inteligência do meu tio e me
testaram do mesmo modo e descobriram que eu era o mais sábio entre os homens e
publicaram os resultados dos meus testes em várias revistas e jornais do mundo
todo... E é por esse motivo que essas emissoras de TV estão aqui me
entrevistando... Essa entrevista era para acontecer nas montanhas; mas, como
tive que me mudar para cá e reinar, todos esses repórteres estão aqui.
-- Vida longa ao rei! – diz
mais uma vez um dos súditos – Vida longa ao rei! – mais uma vez o coro se faz
presente.
-- Mas, continuando a falar
sobre mim; gostaria de dizer que eu não queria ser rei... Quero voltar logo
para os meus estudos, pois quero ser iluminado, quero encontrar a verdade...
Estou aqui porque não tem outro membro da família real que possa reinar e fui
convocado para ocupar esse cargo provisoriamente até ser possível coroar outro
rei e ele assumir essa responsabilidade de governar...
Nisso o rei aponta o dedo
mais uma vez:
-- Vocês estão vendo aquele
homem ali na frente com aquela máquina estranha? Ele está filmando a minha
espiritualidade, está medindo o tamanho da minha aura! Ele trabalha para uma
agencia espacial...
O rei faz outra pausa e diz
-- Querem medir o tamanho da luz que fica ao meu redor quando eu estou
filosofando e quando estou pensando... Eles me disseram que é uma pesquisa
muito importante... Porém, nada disso para mim tem valor, estou muito velho e
preciso, antes de morrer, descobrir a verdade e publicar um livro que possa
ajudar as pessoas a serem livres também... Não posso perder tempo governando
esse país... Eu precisaria ser eterno para ter tempo para encontrar o que
preciso, e através dos meus estudos nunca fiquei sabendo que pessoas pudessem
viver eternamente, só os livros são eternos, tudo aqui é perecível, tudo morre
e logo morrerei também... Tenho pressa, tenho sede de saber, preciso voltar à
minha busca! Eu me sinto vazio, apesar de todo o meu saber, sinto-me um nada,
sou vazio... Quero descobrir o que justifica a vida.
Ao findar suas palavras o
rei senta numa cadeira que trouxeram para ele e o motorista fica bem perto do
homem mais sábio do mundo e pergunta-lhe em seguida:
-- Majestade, posso ir
então? Posso estar com o meu filho? Eu queria te dizer que vou doar o meu carro
para alguma instituição para que eles vendam e cuidem dos pobres com o dinheiro
arrecadado... Quero apenas o que realmente vale a pena na minha vida: minha
família e o meu amor por eles...
O rei responde-lhe com uma
expressão de orgulho pelo que o motorista lhe diz:
-- Sim, meu bom homem, pode
ir. Espero que realmente tenha aprendido uma lição... Espero que tudo que
aprendeu aqui seja de grande valia para você e sua família... Espero que você
ajude o seu filho a perceber as coisas que têm um valor realmente verdadeiro...
Espero também que você, sempre que possível, diga a todas as pessoas que
encontrar pelo caminho o seu erro e ajude-as a entenderem a importância do que
é verdadeiro na vida... Vá em paz, olho para você e não vejo crime algum desde
que o vi... Vejo apenas uma pessoa que não teve oportunidade alguma de saber as
coisas que realmente têm importância... A culpa é mais dos seus pais do que
qualquer outra pessoa... Porém, acredito que seus pais também não tiveram
oportunidade de saber das coisas realmente verdadeiras e não puderam instruí-lo.
Agora com essa nova lei dos cursos e vestibulares para ter uma autorização para
se ter um filho, esse ciclo de má educação vai ser quebrado, teremos novas
gerações de bons pais. Vá em paz, meu amigo... Vá às universidades, aos
presídios, às escolas, aos hospitais, às praças públicas etc e ensine a todos o
que aprendeu com os seus erros; ajude as pessoas a não cometerem o mesmo erro
que você... Volte aqui um dia, antes da minha partida para as montanhas...
Traga o seu filho, pois eu gostaria de conhecê-lo... Não vejo maldade alguma em você... Vá em paz...
Página 3
Quando o rei termina de
dizer tudo isso o motorista dá-lhe um forte abraço e diz muito emocionado:
-- Majestade! Nunca vou me
esquecer do que fez por mim, em todos os dias de minha vida vou lembrar do
senhor e vou me espelhar na sua sabedoria... – O motorista dá outro abraço de
gratidão no homem que lhe salvou a vida e em pranto diz:
-- Que Jesus Cristo o
ilumine, hoje, amanhã e sempre! Espero que o senhor seja cada vez mais sábio e
justo com a graça de Deus todo poderoso!
Ao ouvir o motorista citar
Cristo o rei faz uma cara de espanto e pergunta ao seu interlocutor que ainda
está à sua frente se preparando para ir embora e ver o seu filho:
-- Você falou Cristo? Jesus
Cristo? Você conhece a lenda Cristo, Jesus Cristo? O filho de um deus? Aquele
que morreu para tirar o pecado do mundo? Você conhece essa lenda? O meu
jardineiro do palácio me contou sobre ele. Contou-me ontem enquanto cuidávamos
do jardim real... Eu gosto de rosas... Achei uma bonita lenda... Mas, como uma
lenda poderia me tornar mais sábio e justo?
Dessa vez é o motorista que
se assusta com a pergunta do monarca e diz em seguida:
-- O senhor deve estar se
equivocando... Porque Cristo não é uma lenda como o Senhor acaba de dizer, ele
é verdadeiro... Ele só é uma lenda para os tolos... Por que se referiu a ele
como uma lenda? Não acredita nele como Senhor do Mundo, o Salvador? -- pergunta
o motorista ao rei que está parado à sua frente e parecia estar confuso, mas
logo ele responde:
-- Achei que Cristo fosse
uma lenda muito nova ou pouco conhecida... Não a conhecia, ouvi falar dele
ontem à tarde quando estava no meu jardim, podando as rosas que eu trouxe das
montanhas... Ouvi o jardineiro falar sobre ele, em duas horas apenas demorou a
narrativa sobre ele... Achei que tudo que ele havia me dito era uma lenda,
achei a história fantástica demais... Não conhecia nada sobre ele... Então você
acredita que realmente existe um deus, e que Cristo é o filho dele e que ele
efetivamente veio ao mundo para libertar e salvar as pessoas do pecado? E tudo
que ele disse é a verdade, a verdade verdadeira? “Sou o caminho, a verdade e a
justiça”, é isso mesmo que ele disse, correto?
-- Não, ele disse “sou o
caminho, a verdade e a vida”; e eu não tenho a menor dúvida a esse respeito:
sou batizado e crismado na Igreja Católica Apostólica Romana, sei que só Jesus
é o Senhor dos Senhores, sei que só ele pode salvar o mundo, nenhum outro pode
salvar ninguém! Só ele é digno de ser seguido!
E ouvindo isso com muita
atenção o rei diz ao motorista:
-- Se tudo isso que ouvi
ontem é verdade, se realmente acredita em Cristo eu lhe digo que és um
miserável!
O motorista que até esse
momento nutria uma admiração muito grande pelo rei acha agora que ele não era
tão sábio como antes, pois ele não crê em Cristo e pergunta-lhe com desdém:
-- Sou miserável por ser cristão,
por quê? Não entendi mesmo...
-- Agora não o vejo como
inocente em relação à morte das crianças, na verdade, acredito que você é um
ser desprezível!
O motorista olha para o rei
perplexamente, pois esse rei acaba de lhe salvar a vida e disse-lhe há pouco
que ele era inocente... Mas depois que lhe disse ser cristão, chamou-lhe de
desprezível... Será que ele odiava a Cristo e por influência despreza seus seguidores?
-- Pensou o motorista, o homem mais confuso do mundo nesse instante. Nisso o
motorista ainda pergunta ao rei:
-- Você odeia a Cristo?
-- Não, claro que não... Eu
o amo verdadeiramente, desde ontem, assim que o conheci mesmo acreditando ser
uma lenda.
-- Por que insinuou que sou
um miserável quando disse ser um cristão? Não entendo...
-- Você não está entendendo
direito as coisas mesmo, percebi logo... – Diz o rei decepcionado e ainda
pensativo, continua -- Meu tolo amigo, há uma grande diferença entre as
atitudes que você teve e as atitudes de um verdadeiro cristão. O modo de agir é
diferente se conhecemos ou não a Cristo... Pelas suas atitudes agiu como se não
o conhecesse, ou pior ainda, agiu como se tudo que ele ensinou não valesse a
pena, pois você ignorou tudo que ele ensinou... Não o vejo mais como um
inocente. Como você o conhece então é culpado. A sua atitude foi bem pior que a
de Pedro que o negou por três vezes... Com suas atitudes, o negou várias vezes.
Desprezou-o verdadeiramente... Fez a missão dele ser inútil... Tudo o que ele
fez, tudo o que ele ensinou, tudo o que ele pediu, tudo foi inútil para você...
O rei diz isso ao motorista
que quando ouve suas palavras entra em pânico, pois sabia que o rei era muito
sábio e talvez ele estivesse falando coisa séria e pensa que realmente poderia
ser um ser desprezível.
Nesse momento o rei olha
fixamente nos seus olhos e diz:
-- Se você, meu amigo
infeliz, conhece a Cristo e o reconhece como um mestre não deveria ter tido
essas atitudes tão “desespiritualizadas”... Você disse há pouco “Só ele é digno
de ser seguido!”, mas não o seguiu! Sua atitude não foi cristã... Uma pessoa
cristã não daria tanto valor a um carro tão caro como você deu a esse carro
cheirando a bebê; agiu muito errado quando o seu carro estava parado e esperava
a sua cunhada e percebeu o revólver e pensou em tudo aquilo que me disse... Uma
pessoa que conhece as palavras de Cristo jamais temeria a morte já que ele
afirmou que a morte não existe; ele disse que todos dormem apenas, todos serão
acordados no dia do Juizo Final.
-- O senhor não entende,
majestade, tive muito medo de ficar sem o meu filho... Tive medo de nunca mais
poder vê-lo novamente! -- diz o motorista assustado e chorando.
-- Se seguisse os
ensinamentos de Cristo, de quem você disse “Só ele é digno de ser seguido!“,
acreditaria que mesmo morrendo veria o seu filho, pois Cristo falou sobre o
Reino do Céu e que um dia todos aqueles que o seguissem lá viveriam eternamente
com ele... Se você seguisse o que Cristo ensinou nunca teria essas atitudes que
acabou de ter. Um cristão não se apega às coisas desse mundo; ele, em primeiro
lugar, busca as coisas do alto, pois entende que Cristo tem razão quando disse
para seus seguidores buscarem as coisas que têm realmente relevância e que as
outras coisas seriam acrescentadas... Meu amigo, você se apegou demais a um
sonho que não tinha nada a ver com as coisas do alto, com as coisas de
Cristo... Você viveu para as coisas materiais e não ouviu os ensinamentos do
seu mestre. Cristo disse certa vez: “por que me chamas de mestre se não fazes o
que ensino?” Eu, meu amigo, digo-lhe que quando você estava dentro do seu
carro, que cheirava a um bebê, e aquele garoto o assustou deveria estar
preparado para tudo... Deveria saber que os assaltantes matam suas vítimas
porque eles têm medo de morrer, medo de serem surpreendidos por suas vítimas.
Se você tivesse se acalmado e se lembrasse de Cristo, teria mostrado ao
“assaltante” que você não iria fazer mal algum a ele; teria ficado com suas
mãos para o alto à mostra, para que ele não achasse que você teria a intenção
de tentar matá-lo; deveria sair do carro sem puxar o freio de mão, para que o
“seu inimigo” não achasse que você iria pegar algo para surpreendê-lo; deveria
tê-lo acalmado, pois um cristão tem as mesmas virtudes de Cristo, seu mestre.
Acredito que se você mostrasse muita calma naquela hora, sairia tudo bem! Mas
um cristão nem teria um carro desses... Sinceramente não vejo refletido em você
a imagem de Jesus. Seu mestre é outro; com certeza não é Jesus...
Quando o rei diz isso o
motorista tenta contra-argumentar:
-- Eu não queria morrer
agora, queria curtir a vida, depois de tanto trabalho. Entenda isso.
-- É você que não consegue
me entender, meu amigo... Para um cristão, morrer é lucro; para um cristão, que
está livre da ignorância, pouco importa quando morrer, o que importa realmente
é morrer em Cristo...
Morrer é dormir para um cristão! Você deveria se preocupar em
ir para esse “sono” praticando o que o Cristo ensinou... Isso sim... E “curtir”
a vida eterna!
Ao dizer isso se aproxima do
rei uma mulher com uma criança no colo e olhando-o com desdém e com ironia diz:
-- O senhor se acha tão
sabidão assim como pode desprezar Cristo? O senhor também não se lembrou dele,
lembrou-se dele só agora porque o motorista o citou... Não achou que ele era o
filho de Deus, por que então? Para mim você o negou também! Assuma o seu erro!
-- Mulher, muita coisa que
você disse é verdade... Realmente não citei Cristo logo no começo, porém,
quando estava dando a minha palestra sobre sabedoria há pouco lá dentro do
palácio, iria sim comentar aos repórteres sobre Cristo, mesmo achando que era
uma lenda. Pensei que ninguém a conhecia e pretendia ensiná-la a todas pessoas.
Eu não falei nada, pois na hora pensei numa idéia muito boa de revelar ao mundo
sobre Cristo, mas como ia falar? Falar que, mesmo sendo uma lenda, seus
ensinamentos são dignos de ser seguidos? Quem iria me dar ouvidos? Então
pretendia instituir essa lenda como uma inspiração divina a ser ensinada nas
escolas para as crianças. A idéia era dizer ao povo que esse deus havia entrado
em contato comigo. Eu ia mentir para fazer o bem ao mundo, por esse motivo não
citei Cristo na palestra. Mas amanhã mesmo eu iria convocar todos os sábios do
reino para me ajudar a inventar um modo de fazer o povo conhecer essa novidade
como uma inspiração divina. Esse era o plano... Entendia que Jesus poderia
salvar o mundo com seus ensinamentos mesmo sendo um mito...
E tendo o rei dito isso, a
mulher com a criança no colo, com uma certa ira diz ao rei:
-- Jesus e nem Deus precisam
de suas mentiras e o senhor não o citou no começo... Acredito que o senhor não
ia citá-lo, muito menos fazer essa lei de ensinar nas escolas para as
crianças... Não ia, eu sei o porquê... Porque mesmo o senhor se achando muito
sábio, não pode ver que ele realmente é o Filho de Deus e existe de verdade...
Você o entregaria aos romanos!
-- Mulher, digo a você que
não achei mesmo que ele era o filho de Deus e sim uma fábula, pois quando vi
esse mundo, esse reino que estou a governar, não vi, em momento algum, pessoas
que tivessem atitudes que lembrassem os ensinamentos dele... Quando pediram que
eu julgasse esse caso para ser um exemplo a ser seguido pensei comigo mesmo:
“se aquela lenda pudesse exercer alguma influência sobre esse povo essas
pessoas seriam a melhor civilização do mundo”... Porém, em momento algum
enxerguei vestígios de Cristo no coração de vocês... A atitude de cada um me
levou a crer que, realmente, Cristo só poderia ser uma lenda desconhecida...
Pois, em momento algum alguém disse algo parecido com o que um cristão diria...
-- O que diria um Cristão
então? – Pergunta a mulher com o filho no colo e ainda com raiva do rei.
-- Citarei exemplos do que
pessoas que conhecem a Cristo diriam na hora que o motorista acordou: “não
podemos julgar esse homem, só Deus pode julgá-lo, pois só ele sabe o que se
passa no coração desse homem”; ou “devemos perdoar esse homem, pois na mesma
medida que o julgamos também seremos julgados”; e outras diriam ainda: “não
cabe a um cristão julgar ninguém, cabe ao cristão saber o porquê do seu irmão
ter feito algo de errado e ajudá-lo a não errar mais”; ainda outras pessoas
diriam: “é claro que ninguém compra carros novos ou velhos para matar
criancinhas, algo deve ter acontecido, vamos ver o que aconteceu e ajudar a
sociedade de maneira tal que essas coisas não aconteçam novamente”; aí outro
mais consciente da verdade cristã diria: “se acontecem essas coisas ainda é
porque, nós, que somos cristãos não estamos fazendo as coisas certas, acho que
estamos omissos, devemos ajudar as pessoas a entender a Cristo, ele nos confiou
essa missão e o mundo não melhorou nada, e a culpa é toda de quem tem a verdade
e não dá frutos para Cristo, deveríamos nos envergonharmos, pois temos culpa de
muitas das coisas erradas do mundo; essas crianças aí, por exemplo, nós
poderíamos tê-las ajudado e não o fizemos, nos furtamos dessa oportunidade,
falhamos”. E outros se lembrando de outra passagem dos ensinamentos: “agora
entendo o que o mestre quis dizer sobre os que se omitem irem para o inferno”.
E a mulher ouve isso tudo se
envergonha, vira-se de costas e vai para casa, abre os evangelhos e começa a
ler.
Nisso chega finalmente as
autoridades responsáveis pela remoção dos corpos das crianças, levam os corpos
e o povo não sai de perto do rei.
Nesse momento o mesmo
repórter atento que sugeriu ao rei que julgasse o caso se aproxima dele e
confessa-lhe:
-- Majestade, confesso que
em momento algum pensei em Cristo, sinto-me muito mal, pois se dependesse de
mim teria matado o motorista... Quando vi essas crianças, desse jeito,
lembrei-me dos meus filhos que têm mais ao menos as idades desses que aqui
morreram... Naquele momento, coloquei-me no lugar dos seus pais.
E escutando essas palavras
do repórter o rei o interrompe:
-- Há pouco eu havia dito
que não devemos nos pôrmos no lugar de ninguém, porém, agora, digo que esqueçam
o que eu disse...
-- Não entendi... Há pouco o
que o senhor disse era a mais sábia de todas as filosofias de todos os homens,
digna de ser seguida! -- Diz o repórter atento e o rei responde:
-- Eu disse aquilo porque eu
era um tolo... Seguia a muitas filosofias dos homens tolos, mas, agora, não sou
mais um tolo... Agora eu digo que sempre que acontecer alguma coisa nós devemos
na verdade nos pôr no lugar de Cristo e pensar qual seria a atitude dele;
devemos em todas as situações de nossas vidas, fazermos as coisas em comunhão
com seus ensinamentos... Eu digo isso porque nós, enquanto seres humanos somos
todos falhos, somos influenciados pela emoção, pela falta de conhecimentos; e
Jesus é o único que realmente é sábio e justo... Então a melhor maneira de se
proceder é à maneira que Cristo ensinou... E, segundo o que o jardineiro do
palácio real me ensinou Cristo veio à Terra por vários motivos e um deles é ser
um exemplo de conduta; o Deus se fez em carne na pele do seu filho para nos
ensinar a viver como ele acredita ser justo. Essa vinda do filho de Deus à
Terra é um presente de Deus às pessoas. Não se inspirar em Cristo que veio como
um presente de Deus, é não querer ser filho Dele... Negar Cristo é negar um
presente de Deus, é negar um convite para sermos seus filhos... Pois o filho
sempre quer agir como age o pai. Então o filho é como o Pai; age como Ele...
Então devemos em todas as ocasiões de nossas vidas nos fazermos uma pergunta:
“se Jesus estivesse aqui em meu lugar, o que ele faria?”, com a resposta dessa
pergunta as pessoas, os filhos de Deus, fariam as coisas do modo que fazem os
filhos de Deus. Mas as pessoas poderiam fazer a pergunta de outra maneira: “se
Jesus estivesse aqui do meu lado e eu lhe contasse sobre o que eu vou fazer, o
que ele me aconselharia a fazer?”, então com essa resposta é só fazer as coisas
de modo que o filho de Deus faria e você será filho de Deus também. Mas é muito
importante conhecer os ensinamentos de Cristo para poder se fazer essas
perguntas.
E tendo dito tudo isso o rei
se espanta com o que acaba de perceber e diz:
-- Prestem a atenção, todos
vocês... Quero dizer-lhes algo muito importante!
Quando o rei diz isso todas
as pessoas se preparam para escutar suas palavras e ele declara finalmente:
-- Comunico a todos que não
vou mais voltar às montanhas, não vou voltar a estudar o que disseram os
grandes poetas, cientistas e filósofos ao longo dos tempos... Não vou mais
procurar a verdade naquelas montanhas...
-- Vossa majestade irá nos
governar? Viva! Viva! Longa vida ao rei... -- diz o repórter atento e o povo
felicita “Viva! Viva! Longa vida ao rei...”
E o rei explica:
-- Eu não vou voltar às
montanhas, porém, não vou governar também... Não quero governar nada, tenho
coisas muito mais importantes a fazer...
-- Vai procurar a verdade em
outro lugar ou em outros livros? O senhor comprará uma nova biblioteca
particular, majestade? – Insistiu o repórter atento.
E o rei o responde:
-- Eu desprezo os livros,
desprezo todas as coisas e a sabedoria deste mundo. Tudo aqui é frívolo,
passageiro, ilusório e enganoso como uma miragem. Os sábios desse mundo são
orgulhosos, porém a morte há de apagá-los... A imortalidade dos gênios
desaparecerá com toda a terra. Eles são insensatos e seguem o caminho errado.
Tomam a mentira pela verdade e o falho pela perfeição. Não trocarei o céu pela
terra. Não quero compreendê-los; não quero a glória desse mundo; quero a glória
do céu... Fiquei durante muito tempo procurando a verdade e agora a encontrei,
na verdade a verdade me encontrou: a verdade é Cristo! Para evidenciar o meu
completo desprezo por tudo aquilo que constitui a razão da vida terrena,
recuso-me a governar. Não quero nada que possa ser diferente do que o Cristo me
aconselharia a fazer! Eu renuncio ao meu reino terrestre; devotarei a minha
vida ao reino do céu... Jamais trocarei um reino eterno por uma ilusão... Agora
sim, me considero realmente sábio, pois a minha vida será baseada em Cristo. A sabedoria Dele
será a minha vontade atuante sempre e sempre até o fim dos meus dias aqui nesse
mundo. E a partir desse instante sairei na minha missão de evangelizar as
pessoas que não conhecem a verdade.
E após um instante o rei diz
ainda -- E acho importante ceder agora o poder ao senador mais velho até haver
uma eleição democrática. -- E tendo dito isso o rei se aproxima do jardineiro
do palácio e pede-lhe curvando-se diante dele: -- Você falou sobre o batismo...
Tem algo que o impeça de que eu seja batizado por você, meu bom amigo?
O jardineiro prontamente o
responde assim:
-- Sim, eu posso sim, vossa
majestade... Vamos ao lago do jardim do palácio real. -- E, tendo dito isso,
foram o rei, o jardineiro, os repórteres, os cientistas e todos que puderam
entrar no imenso jardim real. Ao término do batismo o jardineiro diz ao rei:
-- Vossa majestade já está
batizado... – E o rei nesse instante responde ao jardineiro:
-- Eu não sou rei, só Cristo
é rei; só ele pode nos governar.
O ex-rei diz isso, dá um
abraço no jardineiro e lhe agradece por ter ensinado-lhe a verdade e salvo a
sua vida e diz ainda que ele havia perdido muito tempo tentando aprender a
verdade através de filosofias inventadas por homens tolos.
Nisso o jardineiro fixa o
olhar nos olhos do ex-rei e diz:
-- Não diga isso... Todos os
gênios desse mundo, de certa maneira, ajudaram-no a tornar-se sábio o bastante
para que o senhor pudesse reconhecer Cristo como a verdade. E, em verdade,
digo-lhe que se o senhor não tivesse ido às montanhas e estudado os gênios
desse mundo nunca entenderia a Cristo... O senhor seria igual a essas pessoas;
talvez fosse até um péssimo rei... Portanto, meu querido irmão agradeça a
eles... Pois mesmo que eu o ensinasse sobre Cristo, o senhor jamais poderia
entendê-lo e aceitá-lo sem ter exercitado o seu cérebro; o senhor seria igual a
esse povo ignorante... Esse povo que nem se lembra do nosso mestre... O senhor
o chamaria de mestre, mas apenas com os lábios, não seguiria seus ensinamentos
com o coração.
-- Sim, meu
irmão, entendi tudo isso que você me disse e, aproveitando o próprio conselho
que eu mesmo dei ao motorista, vou às universidades, aos presídios, às escolas,
aos hospitais, às praças públicas etc e ensinarei a todos o que eu puder; que,
através de Cristo, ou seja, através dos ensinamentos dele, poderemos todos nos
salvar da ignorância desse mundo e começar a viver em Cristo, nos prepararemos
para um dia encontrá-lo e poder chamá-lo de Mestre, sem a preocupação de ouvir
dele essa resposta: “por que você me chama de mestre se não faz aquilo que eu ensinei?
”.
E ao findar todas essas
palavras o rei sai. Vai pregar a verdade que tanto procurou, e agora muito
feliz por finalmente tê-la encontrado.
Ele sai pensando consigo
próprio: “estudei com muitos mestres em livros e pessoalmente por oito dezenas
de anos e foi numa conversa de duas horas com um simples jardineiro que eu
encontrei a verdade”...
E andando sozinho pensa
novamente: “todas essas emissoras de TV estavam procurando alguém sábio para
dar ao povo do mundo todo uma sabedoria... Mas que tolos são eles... Não sabiam
que Deus já havia dado ao mundo alguém para ser seguido: Jesus!”.
Dá mais alguns passos e
pensa mais: “Há dois mil anos, Deus olhou para a Terra e não viu nenhum justo e
mandou seu filho para ser um presente ao povo, para ser exemplo de conduta a
ser seguido e isso representava a nova aliança de Deus com o povo; do Pai com
todas as pessoas que quisessem ser seus filhos... Mas, todas essas emissoras de
TV do mundo todo viram que o mundo não tinha um justo; e resolveram procurar um
sábio em quem o povo pudesse se espelhar... Queriam dar ao povo esse presente;
queriam me dar ao povo de todo o mundo... Acreditavam que eu era sábio... Como
puderam esquecer de Jesus e seu convite para sermos seus irmãos? Como puderam
esquecer que ele é o único digno de ser seguido? Que tolos são os homens!”.
Dois meses após tudo isso
acontecer àquela citada agência espacial que estava no dia da entrevista com
uma máquina especial para filmar a aura do rei fez um relatório sobre suas
descobertas, mas antes de divulgar o resultado disseram que aconteceram coisas
muito estranhas com o aparelho de medir as luzes que saiam do pesquisado. O
aparelho estava muito perto do ex-rei quando ele chegou próximo ao local onde
estavam as crianças atropeladas. Tentaram tirar fotografias que revelariam o
tamanho da aura quando ele estivesse filosofando, porém essas fotos sempre
queimavam.
Parecia que havia muita luz
em volta do rei, porém os cientista responsáveis pelos estudos não enxergavam
luz alguma. Essa máquina era programada para não deixar qualquer coisa desse
mundo intervir.
Depois os pesquisadores
resolveram ficar bem longe para ver se conseguiriam terminar o trabalho e
quando eles finalmente conseguiram ver a aura do entrevistado descobriram que
ela não era tão grande como eles imaginavam e isso gerou uma dúvida, o que
fazia com que as fotos queimassem se não era a intensidade da aura do rei? De
onde vinha a luz que queimava as fotos? Só depois os pesquisadores descobriram
que essa luz vinha do jardineiro; descobriram que a aura dele era mais de um
milhão vezes maior que a do rei!
Os cientistas desses estudos,
todos, mesmo sendo ateus, não tiveram dúvidas em afirmar que só um ser com a
alma do tamanho de Deus, se ele existisse, poderia ter uma espiritualidade
assim. E alguns dos cientistas que trabalhavam nas pesquisas se converteram ao
cristianismo no mesmo instante.
Os cientistas vendo a sequência
em que as fotos foram tiradas afirmaram que no momento em que o rei descobre
que Cristo não era uma lenda e sim o maior presente que Deus deu ao seres
humanos para ser um exemplo de conduta a ser seguido, a sua aura aumentou cem
vezes. E quando o rei renunciou o seu reinado aumentou mais cem vezes a
luminosidade de sua aura.
Os cientistas disseram que
quando o rei foi batizado perceberam nas fotos uma luz intensa entrando nele e
isso fez com que sua aura aumentasse milhares de vezes. E, quando o rei disse
que sairia pelo mundo a pregar a verdade que acabou de aprender a sua aura
quase que se igualava à do jardineiro; isso porque, segundo o próprio rei, a
partir daquela data, não seria mais a sua cabeça que o governaria e sim Cristo.
O rei disse que além de renunciar a tudo que ele tinha de bens materiais, renunciaria
toda a sua própria sabedoria que aprendeu com as verdades dos tolos homens
desse mundo.
E três meses depois que o
rei deixou a vida de monarca todos os jornais publicaram em suas primeiras
páginas que no dia em que houve o atropelamento e morte dos inocentes, o
jardineiro visitou o velório das pequenas vítimas e conversou com os seus pais.
Ele havia perguntado-lhes se eles queriam os filhos de volta e eles disseram
que sim; mas que não poderiam tê-los mais. Disseram ao jardineiro que se eles
pudessem tê-los de volta, fariam tudo bem diferente e que cuidariam direito
deles. E quando eles acabaram de dizer isso o jardineiro sumiu diante de seus
olhos. Eles ainda puderam ouvir um pedido do jardineiro: “daqui a noventa dias
vocês poderão contar a todas as pessoas sobre mim”. E, quando a voz do
jardineiro sumiu, e eles se abraçaram e ouviram vozes suaves, conhecidas,
dizendo que estavam com fome. E todos choraram. As crianças, por estarem
famintas; e as lágrimas dos pais eram de alegria. E eles pegaram as crianças e
foram para casa alimentá-las e amá-las, dessa vez, de verdade.
E, terminando de contar esta
história, o interno do Hospício Municipal coloca a cabeça novamente através do
buraco do muro e pergunta para as pessoas que estão do lado de fora no ponto de
ônibus:
-- Ei!... Ei!... Psiu! Você
se acha sábio? Ei!... Ei!... Psiu! Você se acha justo?
Todos se entreolham e o
interno diz para a vendedora de cachorros-quentes:
-- Você não
seria uma boa governante; pois, para começar a história, a sua filhinha foi
violentada e você nem quis escutá-la... Eu a ouvi comentar com uma amiga ontem,
coitadinha dela! Ela disse que você não a escutaria... Se você não foi justa
nem com a sua própria filha, como é que seria o seu governo? Mandaria matar
todas as pessoas que não concordassem com a sua tirania? O mundo não precisa da
sua injustiça... O mundo já tem um modelo de justiça para ser seguido...
E tendo ouvido isso do
interno a vendedora de cachorros-quentes sai correndo, desesperada, gritando
pelo nome da sua filha, esquecendo ou não dando mais importância alguma ao seu
carrinho de cachorros-quentes.
E todas as pessoas que
estavam no ponto de ônibus sairam envergonhados sem dizerem uma só
palavra.
FIM
Obrigado por ler
o meu pequeno livro até o fim.
Se você quiser e
puder pode indicar para amigos!
Obrigado a todos,
Isaias Amorim
Agora vamos ver alguns
poemas
POSSO TE
CONTAR UM SEGREDO?
Se eu
tivesse coragem de contar um segredo,
Guardaria só
para si?
Acreditaria
que eu nasci um anjo?
Que eu vivia
no céu,
Que lá é um
lugar muito lindo?
Acreditaria
se eu te confessasse isso?
Acreditaria
se eu te confessasse ainda,
Que ao te
ver me apaixonei?
Acreditaria
que se eu te contasse,
Que
renunciei a minha imortalidade,
Quando pedi
para nascer humano, por amor a você,
Mesmo
sabendo que eu poderia,
Não
conseguir despertar seu em coração meu amor?
Mas eu não
poderia ficar no céu com meu coração na Terra,
Então
arrisquei, lutei por meus sentimentos,
Mesmo
sabendo que nunca mais poderia voltar a ser anjo, tentei amar.
Mas todos os
anjos torcem para mim,
Você
acreditaria se eu te confessasse tudo isso?
Você, pelo
menos acredita que se eu fosse um anjo,
Eu faria
isso tudo pelo seu amor?
Sim, eu
faria,
Por seu amor
acho isso pouco,
Faria mais
do que isso,
Faria
qualquer coisa só para ter a chance de ser o seu amor,
Agora você
entende a razão de eu ser Poeta?
Isaias
Amorim
------
QUER NAMORAR
COMIGO?
Se você
aceitar o meu pedido,
Se você
puder se namorar comigo,
Eu, prometo
a você, tornarei-a,
A segunda
pessoa mais feliz desse mundo...
Todos os
dias farei-lhe poemas,
Alguns serão
lindos, outros melhores, alguns sublimes,
Cada dia,
cada hora, cada minuto, cada segundo,
Vou amá-la
cada vez mais e mais...
Se você
aceitar o meu pedido,
Se você
puder aceita-lo,
Ninguém,
nesse mundo,
Ninguém
mesmo será mais feliz do que eu!
Isaias
Amorim
------
Posso pedir?
Se eu
pudesse ser atendido em um desejo,
Solicitaria
ao meu benfeitor,
Que me
concedesse essa graça,
Que alguém
igual a você se interessasse por mim.
Pediria que
ela fosse exatamente igual a você!
Igual em
tudo,
Em quase
tudo!
Diferente
num aspecto apenas,
Que ela não
me olhasse apenas como um amigo...
Se um dia eu
estiver nessa condição de pedir um amor...
Se um dia eu
puder...
Se...
Posso pedir
você?
Posso pedir
que você seja o meu amor?
É a você que
amo...
Isaias
Amorim
------
NÃO SE
ASSUSTE
Se, às
vezes, quando estamos fazendo amor,
Paro e fico
muito tempo te olhando,
Não pense
que não a amo,
Ou que sou
distraido,
É que eu
acho você tão linda,
E sua beleza
me encanta,
Suas
belezas, todas elas, me fascinam.
Se, muitas
vezes,
Quando
estamos fazendo coisas serias,
E eu te
roubo um beijo,
Não se
assuste,
Adoro seus
beijos,
E quando
olho para a sua boca ela me convida,
Se depois do
beijo eu tirar a suas roupas,
Depois as
minhas,
Não fique
assustada,
Eu amo amar
você.
Se quando a
gente se amar a tarde toda,
E eu querer
mais e mais,
Não se
assuste não isso,
É que você
estimula meus desejos.
Isaias
Amorim
-----
BEIJO
Beijar
é bom
Adoro
beijar
Já
beijei Muito
Beijei
algumas garotas
Cinco
desses beijos me foram roubados
É
uma delicia ser roubado assim
Eu
nunca roubei
Tenho
medo
Como
será o gosto de beijo que roubamos?
Acho
que eu morreria de medo
Será
que eu poderia te assaltar?
Poderia
me dar um sinal?
Você
poderia fazer gestos
Pequenos
circulos
Usando
um dos dedos sobre a mesa
Ou,
ainda, melhor
Em
volta de sua boca linda
E
isso poderia me ajudar a perder o medo
De
roubar o gosto de seus beijos
Isaias
Amorim
-------
DIGA-ME COMO
FAZ ISSO?
Uso muito
tempo do meu dia,
Imaginando
como você consegue,
Improvisar
essas coisas todas,
Diga-me como
consegue realizar tudo isso?
De que
maneira agiu para fazer o mundo ficar mais colorido?
Qual é a
magia que usa para me fazer feliz ao pensar em você?
Como
inventou o arranjo para fazer meu coração bater mais rápido ao te ver?
Qual é o
encanto que você usa para ser a mulher mais linda que meus
olhos já
viram?
Como
arquitetou para me fazer tremer totalmente ao te ver?
Como arranja
para acender uma chamar dentro de mim quando me olha?
Como
consegue fazer o ar faltar ao tocar a minha mão?
Que mágica
fez com minhas emoções,
Quando te
beijei e perdi a consciência?
Qual a magia
que vai usar em mim quando nos amarmos?
Isaias
Amorim
--------
BEIJO
(desejo)
Estende-me
seu coração
e me
introduza dentro dele,
Desdobra-me
sua alma
e deixa-me
entrar e conhecê-la,
Abra-me sua
boca
e me
arranque um beijo,
Encompride
seus braços
e me adote
com seu carinho,
Alongue suas
pernas
e me receba
dentro de você,
Estou seco,
Encontro-me
com frio,
Aqueça-me,
Encharca-me,
Com seu
líquido quente
e único,
Desejo,
Beijo,
Quero,
Espero,
Beija minha
boca,
Faça isso
como uma louca,
Escala-me,
Galope-me,
Surpreenda
os colibris
com a
violência
e sutileza
de seus movimentos,
Amemos-nos
até morrer de amor!
Mas, antes
me abrace bem forte...
Isaias
Amorim
SONHO LINDO
(Contato)
Meu maior (e
único) CONTATO com você (ó ser ideal),
sempre foi
em sonhos, em meus sonhos.
Nessa
fantasia estamos numa nave espacial que simula uma cápsula de
vidro em
meio ao espaço distante e infinito:
estávamos a
sós: Você (como sempre) linda...
.Imagina-la
ali parada me esperando, deixa-me repleto de desejos...
Eu não
resisto e é claro que vou beija-la,
trocar mil beijos com você.
...Beijar a
sua face tão linda...
...Sentir sua
fragrância, seu gosto...
...Isso tudo
aumenta ainda mais o meu desejo, nossa vontade...
Quero
compartilhar meus sentimentos com você...
...Ah, só
beijar a sua face não me satisfaz (claro que não!)...
...Beija-la,
totalmente, faz parte das minhas ambições e desejos...
Mas, como
vou beija-la com essas fantasias
(roupas) cobrindo-a,
protegendo-a
de mim?
Afastando-me
do seu calor, do seu amor,
privando-nos
de algo que queremos tanto?.
...Mas, de
repente, com um gesto de atrevimento e ousadia,
depois de
muitos beijos na sua superfície,
você começa a perder suas roupas, seu pudor,
sua resistência...
...Cada peça
da fantasia de menina bem comportada que você perde, mais
carinho
ganha, e perde, ao mesmo tempo, cada vez mais o medo e a
necessidade
de me evitar (de me fazer esperar!)...
...Quanto
mais suas roupas a deixam, mais linda descubro que é...
...Ah! Lindo
é poder olhar a face sua, contempla-la: com um simples
olhar
consegue transmitir-me o quanto me ama e a dimensão do seus
desejos, e
isso tudo me deslumbra ainda mais...
...Cada
delírio, cada sussurro, cada gemido seu que escuto
mais
generoso com os carinhos fico...
...Nossas
roupas flutuam pela Gravidade Zero...
Flutuam como
as minhas emoções e desejos...
É assim que
me sinto ao estar com você... Estar
perto de Deus...
Ser
observado de perto pelo Criador... Que privilégio!
...Ah! O
Universo infinito: gigantesco, mas, tão pequenino, nesse
instante,
quando o comparamos ao meu amor e desejos por você...
...Delírios,
delírios, delírios e sussurros mil...
Sensações
que tomam o meu ser...
...Seus
beijos embriagam-me mais que qualquer vinho
que eu tenha
provado; desatina-me com seu cheiro, com sua voz,
com suas
doces palavras: amo tudo em você, sabia?...
...Cativa-me;
prenda-me em você: liberte-me de tudo...
...Meu corpo
parece só pensar no seu corpo...
Minha alma
só pensa na sua
(está
ouvindo a minha vontade chamando-a, clamando por você?).
Tudo que me
importa agora, nesse instante mágico,
é saber
quais são suas fantasias e realiza-las:
todas, mesmo
aquelas que se seu pai soubesse que as possui a colocaria
de castigo e
nunca mais a deixaria ter um novo CONTATO comigo, nunca
mais...
...Seu corpo
todo treme (e não sente frio)...
Delira (e
não está febril)...
...Beijos
deliciosos tomam conta dos nossos corpos.
...Seu olhar
me diz sim, o meu sempre lhe disse isso:
Sim, sim e
simmmmmm...
...No
silêncio do espaço só ouvimos os sons dos nossos corpos nos
convocando
reciprocamente (talvez desesperados!)...
És,
verdadeiramente linda, e, todo o desenho do seu corpo é tão
inspirador:
eternizarei-a em versos meus que furtei de você, versos
esses que
farão de mim o maior entre todos os poetas!
Tudo que é
dito por você é tão lindo...
...Eu a
esperei por infinitos dias...
Procurei-a
em todos os lugares! Encontrei-a!
Diga que deseja
fazer uma nova vida (filho) comigo...
...Consegue
imaginar um bebezinho voando para os braços seus
chamando-a
de mamãe e a mim de papai?
...Será que
ele vai ter os seus olhos?...
...Qual será
a cor dos cabelos dele?...
...Será que
ele vai ter o seu sorriso sempre doce?
...Com quem
será que ele vai se parecer mais?
...Confirme-me
que você está a ovular nesse instante?
...Eu sei,
está pronta sim, pois, mais linda do que nunca a vejo...
Adoro os
seus doces beijos... Adoro tudo em você...
...Quero ser
o seu tudo...
...Seu Céu,
sua Lua... Seu amor...
És o meu
SONHO LINDO (que finalmente aconteceu!).
...Quero
compartilhar tudo com você...
(apesar de
só ter o meu amor puro e sincero, além dos meus sonhos,
desejos e
planos, para lhe oferecer).
...Agora
nenhuma das peças da sua fantasia estão me impedindo de
contemplar-la
e ver como és: um ser lindo por inteiro, pois as nossas
roupas estão
flutuando, iguais as emoções minhas...
...Quero
tudo o que eu sonhei,
quero até
mais que isso (e nem sei se te mereço); serei digno?.
...Quero,
com muito amor, fazê-la deixar de ser uma menina
e torná-la uma mulher que saiba amar e ser
amada...
...Quero que
conheça, com os melhores dos sentimentos,
todo o meu
amor, todas as minhas vontades e desejos...
...Quero que
perceba meu corpo falando ao seu uma linguagem que não dá
para
descrever, só dá para sentir...
...Olha lá
embaixo, o meu planeta natal:
o lugar onde
nosso filho vai nascer, crescer, morar e viver...
...Tempos de
guerras, tempos de crises e nós aqui em cima,
só pensando
no amor, planejando o nosso filho, nosso futuro
(crescei-vos
e multiplicai-vos!)...
...Quero que
perceba o quanto eu a amo em cada gesto meu,
em cada
toque, em tudo que eu lhe ajudar sentir, descobrir...
...Quero
atrevidamente beijar seu corpo, cada pedacinho dele:
distribui-los,
esses beijos, proporcionalmente por seus braços,
pernas,
pescoço, orelhas, boca, nuca, coxas, tudoooo...
...Ah, meu
amor! Serie mais atrevido ainda ao sentir o mais sublime
dos
paladares ao provar o delicia do mel do seu sexo...
...Atos
sagrados, atos profanos acontecem e se misturam aos nossos
desejos:
tomam conta da cópula, do prazer e tudo que nos cerca...
...Sinto que
o momento é o exato,
o seu corpo
começa a receber o meu...
...Você o
recebe e me sinto honrado, privilegiado...
Envolve-me
em seus braços! Prenda-me em suas pernas!
("prenda-me?”
de que forma poderia estar “preso”?, se em você,
que,
eternamente, quero estar!?)...
...Será que
Deus vai nos castigar por isso?
...Acho que
não: ELE conhece nossas almas e intenções...
...Nesse
momento, nem sei mais o que é profano ou sagrado:
só sei dos
meus desejos e planos...
És uma
divindade, prepararás um filho para mim, para nós,
entendo esse
ato como santificado, sinto-me fascinado
mesmo fazendo tão pouco,
você que
fará tudo sozinha: só tenho que esperar.
Amorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr...
Abraça-me
bem forte agora!
...(choro)...
"vem,
filho, vem voando para o colinho do papai!?"
Isaias
Amorim
Por favor, adiconam-me e me
compartilhem!
Obrigado, Isaias Amorim
3 comentários:
Incrível seu trabalho!!!
Juntar filosofia, politica social e ciências é sempre uma forma inteligente de otimizar e abordar assuntos do dia a dia que tenham relevância no nosso mundo.
Almira Ferraz disse...li e recomendo a todos amigos esta história escrita por Isaías Amorim, tem conteúdo de fácil entendimento.que todos posam se identificar nesta história onde nos seres humanos erramos e podemos através deste blog corrigir nossas atitudes e pensamentos .uma história contada com fatos do nosso cotidiano.vale a pena ler!
Postar um comentário